O Estado de S. Paulo

Primeira fintech a abrir capital na B3, Banco Inter levanta R$ 722 milhões

Pioneiro. Banco digital criado pela família Menin, dona da construtor­a MRV, estreou ontem na bolsa brasileira e ação, após subir 16%, fechou o dia estável; para especialis­tas, IPO pode animar outras startups financeira­s a abrirem o capital no País, e não

- Fernanda Guimarães Cátia Luz

Em mais uma estreia da onda de aberturas de capital em 2018, o Banco Inter, da família Menin, dona da construtor­a mineira MRV, começou ontem a negociar seus papéis na B3. Ao levantar R$ 721,9 milhões na sua oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), a empresa foi considerad­a a primeira fintech a abrir o capital na bolsa brasileira.

“Isso vai ajudar o setor bancário brasileiro e deverá, de quebra, atrair outras startups do setor financeiro a abrirem capital”, afirmou, em cerimônia na B3, João Vitor Menin, presidente do Banco Inter e filho caçula de Rubens Menin, fundador da MRV.

O banco – que tem como lema a gratuidade de abertura de contas, no pedido de cartão e nas transferên­cias – estreou na bolsa valendo R$ 1,9 bilhão. A ação foi precificad­a em R$ 18,50, um pouco acima do piso do intervalo previsto (de R$ 18 a R$ 23), e a demanda ficou em 1,5 vez o total de papéis ofertados. Investidor­es brasileiro­s ficaram com 57% das ações.

Da oferta primária, que somou R$ 541,463 milhões, os recursos serão utilizados para investimen­tos para “incrementa­r operações de crédito”, investimen­tos em tecnologia, em marketing e expansão dos negócios por meio de aquisições estratégic­as. Outros R$ 180,487 milhões referem-se à oferta secundária.

No primeiro dia de negociação, o papel da companhia, que chegou a registrar alta de 16%, fechou estável.

Escolha por Brasil. Segundo João Vitor Menin, alguns bancos chegaram a sugerir que a instituiçã­o abrisse seu capital em uma bolsa estrangeir­a, já que nos Estados Unidos, por exemplo, há grande presença de empresas do setor de tecnologia e, por isso, esse acaba sendo o destino de muitas companhias do segmento. “Mas o banco é brasileiro, feito por brasileiro­s e, assim, é justo que a oferta inicial seja no Brasil”, afirmou.

De acordo o presidente da B3, Gilson Finkelszta­in, há um mito no mercado brasileiro de que os IPOs de empresas de tecnologia precisam ser realizados fora do País. Segundo o executivo, existe no momento um esforço por parte da B3 para que as listagens dessas empresas sejam na bolsa local.

Finkelszta­in disse ainda que as companhias brasileira­s que escolhem Nova York para abrirem seu capital acabam, depois da oferta, “esquecidas”, porque viram apenas mais uma entre inúmeras empresas ali listadas. Neste ano, em janeiro, a empresa de meios de pagamento PagSeguro abriu seu capital na bolsa de Nova York, em uma oferta que girou mais de R$ 7 bilhões.

Para Guilherme Horn, diretor executivo de inovação da consultori­a Accenture, a abertura de capital do Inter mostra para as fintechs brasileira­s que não necessaria­mente o caminho tem de ser o de abrir capital nos EUA. Além disso, para ele, o IPO da empresa mineira demonstra que o mercado acredita no modelo do banco digital e no seu valor para os acionistas. “Este valor para o investidor, com base em casos de sucesso internacio­nais, considera um custo de aquisição de clientes que pode chegar a um décimo do de um banco tradiciona­l e um custo de servir que pode ser um terço do de um banco convencion­al”, explica Horn.

Financeira. Fundada há 24 anos sob o nome de Intermediu­m, a empresa começou como uma financeira especializ­ada em financiame­ntos imobiliári­os. Em 2015, já sem ser controlada pela construtor­a, a instituiçã­o passou por um profundo processo de digitaliza­ção, comandado por João Vitor Menin, que marcou a mudança de nome da companhia.

No fim de janeiro, o banco mineiro somava 435 mil correntist­as, após fechar o ano passado com patrimônio líquido de R$ 390,6 milhões e uma carteira de empréstimo­s e adiantamen­tos a clientes de R$ 2,6 bilhões.

A abertura de capital do Inter vem em um momento de otimismo na bolsa. As duas operadoras de saúde que abriram capital na semana passada, a cearense Hapvida e a NotreDame Intermédic­a, controlada pelo fundo Bain Capital, tiveram valorizaçã­o de mais de 20% nos primeiros dias de pregão.

Com um apetite dos investidor­es que superou em sete vezes a oferta de papéis, a Hapvida levantou R$ 3,4 bilhões. Já o IPO da NotreDame Intermédic­a movimentou R$ 2,7 bilhões.

“Isso vai ajudar o setor bancário brasileiro e d everá, de quebra, atrair outras startups do setor financeiro a abrirem capital”

“O banco é brasileiro, feito por brasileiro­s e, assim, é justo que a oferta inicial seja no Brasil” João Vitor Menin PRESIDENTE DO BANCO INTER

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CAUE DINIZ Presidente. João Vitor Menin conduziu processo de digitaliza­ção do banco da família
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