Hostilizado, Temer afirma que era ‘difícil’ pedir reintegração
Presidente foi xingado e alvo de objetos atirados por moradores; para governador, questão envolve ‘briga judicial’
Em rápida visita aos escombros do edifício que desabou ontem no centro de São Paulo, na qual foi hostilizado, o presidente Michel Temer classificou a situação como “dramática” e afirmou que a União, dona do prédio, ainda não havia pedido a reintegração de posse porque o local era ocupado por “gente muito pobre”.
“Nós não pudemos pedir a reintegração, porque era, afinal, gente muito pobre, naturalmente, uma situação um pouco difícil. Mas agora serão tomadas providências para dar assistência”, afirmou.
Durante a passagem pelo local, Temer foi xingado e chamado de “golpista” por pessoas que acompanhavam o trabalho dos bombeiros. Na saída, alguns chegaram a atirar objetos contra o presidente, que foi protegido por seguranças, e a bater no vidro e a chutar a lataria do carro onde ele estava.
“Eu não poderia deixar de vir aqui, sem embargo dessas manifestações, porque, afinal, eu estava em São Paulo, e ficaria muito mal eu não comparecer aqui para dar apoio àqueles que perderam suas casas”, afirmou Temer, que estava desde anteontem em sua casa na capital. Ele determinou que o Ministério da Integração Nacional auxilie a Prefeitura e as famílias desabrigadas.
Já o governador de São Paulo, Márcio França (PSB), afirmou que o Estado está colaborando com a gestão municipal. E propôs pagar aluguel social às famílias que ocupavam o prédio destruído até que elas encontrem uma nova moradia.
Segundo ele, existem mais de 150 prédios ocupados indevidamente na capital paulista, mas não há balanço exato da quantidade de pessoas que vivem nos imóveis. Alguns são particulares e o Estado não pode tirar. “É uma briga judicial o tempo todo. O que temos que fazer é convencer as pessoas a não morar desse jeito”, afirmou França.
Mais cedo, à emissora de TV por assinatura GloboNews, ele disse que esse tipo de moradia é inabitável, com condições subhumanas, “um verdadeiro barril de pólvora prestes a explodir a qualquer momento”. “Graças a Deus, hoje chegamos a tempo (de salvar as famílias), mas nem sempre vai acontecer isso.”
Presidenciáveis. Após o desabamento do Edifício Wilton Paes de Almeida no centro de São Paulo, pré-candidatos à Presidência da República usaram as redes sociais e atos do 1.º de Maio para se manifestar sobre a tragédia.
Postulante pelo PSOL e coordenador nacional do Movimento do Trabalhador Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, aproveitou a passagem pelo ato do Dia do Trabalho em Curitiba para rebater mensagens que associam a tragédia aos moradores. Segundo ele, “ninguém ocupa porque quer”. “As pessoas ocupam por completa falta de alternativa.”
A candidata pelo PCdoB, Manuela d’Ávila, culpou o poder público. “A responsabilidade por um prédio que tomba, com trabalhadores e trabalhadoras dentro, que ocupam por não ter casa, é do Estado que não garante moradia. Minha solidariedade às vítimas e apoio aos que lutam por um teto para viver.”