BATALHÃO BRASILEIRO
Guga entra em nova etapa de seus projetos, o alto rendimento de garotos
‘VEM UMA GERAÇÃO BOA AÍ!’
Se depender de Gustavo Kuerten, o País terá no futuro um “Batalhão Brasileiro” no tênis, de fazer inveja à Armada Espanhola, como é conhecida a elite da modalidade na Espanha. Após anos de atenção ao trabalho social e à criação da sua escolinha, o tricampeão de Roland Garros começa a investir no alto rendimento. Sua meta é formar tenistas de nível Top 100 e Top 50 da ATP.
“Nosso planejamento é transformar o tênis”, disse Guga ao Estado. “Queremos colocar jogadores entre os 100 do mundo. Se chegar algum a Top 50, será espetacular, entre os 20 ou 10 melhores, extraordinário. Teremos um time vencedor, um ambiente inspirador, criterioso, similar à Armada Espanhola. Será o nosso Batalhão Brasileiro”, projeta.
Guga está montando um time de jovens talentos que levará adiante seu nome. É o Time Guga. “O que posso dizer é que vem uma geração boa aí!” O projeto, em estágio inicial, tenta acabar com a fama de o Brasil semear grandes juvenis, mas colher poucos bons profissionais. Guga reuniu treinadores que tinham planos parecidos em diferentes partes do País. Recebeu apoio do duplista Bruno Soares, cujo técnico, Hugo Daibert, se tornou o coordenador técnico do projeto. Guga e Daibert lideram uma comissão com três treinadores: Ricardo Schlachter, Thiago Alves e Bruno Baeta.
“São várias cabeças pensando em algo de transformação, sem seguir uma linha de confederação ou patrocinador”, diz o técnico de Soares.
Tendo o tricampeão de Roland Garros como mentor, o coordenador e os técnicos treinam uma equipe de sete tenistas num esquema de trabalho descentralizado. Não há planos de criar um CT. A ideia é dar apoio aos atletas onde eles já atuam. Assim, Schlachter treina o catarinense Pedro Boscardin e o mineiro João Victor Loureiro, ambos de 15 anos, em Joinville (SC). Thiago Alves atua com o paulista Mateus Alves, de 17, e o baiano Natan Rodrigues, de 16, em São José do Rio Preto (SP). E Bruno Baeta trabalha com os mineiros João Ferreira, de 17, e Bruno Oliveira, de 16, sob a supervisão de Daibert, em Minas. O mais experiente dos meninos é João Menezes, a ser oficializado no Time Guga em breve.
Aos 21 anos, já é o 321.º da ATP, sendo o 6.º melhor brasileiro no ranking. Ele treina sozinho em Barcelona, cidade que se tornou uma espécie de base da equipe de Guga na Europa. É a partir de lá que os juvenis podem se ambientar no continente onde são disputados os principais torneios. Treinam na 4Slam, academia do ex-tenista Galo Blanco, um dos técnicos do austríaco Dominic Thiem, número 8 do mundo.
“Os atletas precisam perceber que fazem parte do circuito e, através da união do Time, podem encontrar força para suportar os desafios para chegar ao profissional”, diz Guga. “Nossa meta é crescer em grupo. Fui para Milão para acompanhar três atletas, sendo que só um deles treina na nossa base, em Belo Horizonte”, reforça Daibert.
Custos. Por enquanto, cada tenista e técnico bancam suas despesas. O Time, sem vínculo com a Confederação Brasileira de Tênis (CBT), espera ajudar nos gastos quando obtiver parceiros. Essa busca é uma das maiores preocupações. “O tênis precisa se tornar autossuficiente, precisa ser um bom negócio”, afirma o ex-líder do ranking.
Mesmo sem bolsa, os meninos já colhem os benefícios. Recebem orientações técnicas, suporte motivacional, apoio para montar calendários e gerir a carreira e até ganham dicas de Guga.
Dentro de quadra, o apoio do ex-número 1 é discreto. Ele não consegue bater bola por ainda estar em recuperação desde sua última cirurgia no quadril, em 2013. Quando pode, observa o treino e passa orientação ao respectivo treinador pessoalmente ou por meio de um grupo de WhatsApp.
“Ele sempre dá suas opiniões, mas respeitando a autonomia de cada técnico”, diz Schlachter. “Para nós, treinadores, é quase um auxiliar de luxo. Quantos jogadores não gostariam de treinar com o Guga, não é mesmo?”
Com os atletas, Guga faz conversas mais motivacionais. “Ele nos passa o que vivenciou no circuito e de sua transição do juvenil”, diz João Ferreira. “Para o atleta, o principal é estar avalizado pelo Guga porque ele sinaliza que os garotos têm potencial para estar entre os 100 melhores no futuro”, diz Schlachter. “Várias portas se abrem por eu fazer parte do Time”, conta Boscardin.
Último degrau. O Time é considerado o topo da pirâmide da formação de tenistas nos projetos de Guga. É uma espécie de elenco de elite desta última fase, dando sequência a uma cadeia de formação de novos atletas. “Agora temos uma cadeira bem certinha, desde a base”, diz Daibert. “Vamos atrás de meninas também, nossa ideia é contar com um time completo.” O objetivo é transformar o esporte.