Vitória americana
Fifa escolhe EUA, México e Canadá para organizar a milionária Copa de 2026
A próxima década será americana. Pelo menos no esporte. Num processo que envolveu até chefes de Estado, a Fifa designou a América do Norte como sede da Copa de 2026. Dois anos depois, será a vez de Los Angeles sediar os Jogos Olímpicos e os americanos ainda querem a Copa do Mundo de Futebol Feminino em 2027.
Por 134 votos contra apenas 65 do Marrocos, a candidatura conjunta de EUA, México e Canadá entrará para a história como a mais ambiciosa jamais realizada. Pela primeira vez, ela será em um continente, envolverá pelo menos 16 cidades, 48 seleções, falará quatro línguas oficiais e terá uma receita inédita.
A Copa de todos os superlativos terá 80 partidas. Sessenta delas serão em estádios americanos, inclusive a grande final.
Antes da votação em Moscou, durante o Congresso Anual da Fifa, os americanos usaram uma cartada que agradou a muitos na Fifa: a promessa de uma receita recorde de US$ 15 bilhões, quase três vezes o obtido no Brasil em 2014.
A votação ainda cumpriu um plano do presidente da Fifa, Gianni Infantino, que precisava levar o Mundial para os EUA, país que o apoiou para assumir o comando da entidade em 2016. Numa tacada só, ele retribuiu sua eleição, compensou os americanos pela derrota na Copa de 2022 e ainda criou um compromisso do governo dos EUA de não atacar sua entidade. Os países africanos acusaram Infantino de privilegiar os americanos. Mas, nos bastidores, a Fifa respirava aliviada com o resultado.
Novo processo. Depois da polêmica e suspeita de compra de votos para a Copa de 2022, a Fifa reformou seu processo de eleição – este era o primeiro teste. Até hoje, votavam apenas os 24 membros do Comitê Executivo da entidade. Desta vez, as 209 federações puderam expressar seu desejo e o resultado foi publicado. Mas o suspense permeava diante da incerteza sobre como cada federação reagiria. Eleitores confirmaram ao Estado que, depois de viver um caos diante das escolhas da Rússia em 2018 e Catar em 2022, a Fifa precisava de “paz e dinheiro”. A receita da Copa no Marrocos seria menos da metade daquela que os americanos garantiriam e a derrota de Trump poderia reabrir uma crise interna.
A última noite foi permeada por barganhas e tensão. Na véspera do voto, Holanda e Luxemburgo mudaram de lado e anunciaram seu apoio aos marroquinos. O governo da França, depois de receber promessas de que ganharia contratos em obras no Marrocos para os novos estádios, passou a ser o principal cabo eleitoral do país africano.
Trump chegou a insinuar uma ameaça a quem não votasse pelos EUA e acionou o Conselho Nacional de Segurança para fazer pressão. Ele ainda enviou seu genro, Jared Kushner, para convencer os sauditas a não apoiar o país muçulmano e se aliar aos americanos.
Horas antes da votação, o presidente russo Vladimir Putin informou que apoiaria os americanos, numa retribuição à defesa que Trump estava fazendo de Moscou nos debates do G7.