O Estado de S. Paulo

Teremos um novo czar?

- MAURÍCIO NORIEGA MAURÍCIO NORIEGA É COMENTARIS­TA DO SPORTV

Apalavra russa czar tem origem no latim Caesar. Tamanha foi a importânci­a de Júlio César para Roma que depois dele todos os imperadore­s eram chamados César. Se o futebol consagrou Pelé como seu Rei incontestá­vel no século 20, a Copa de 2018 pode apontar o czar da bola no século 21.

A disputa tem só dois candidatos indiscutív­eis: Messi e Cristiano Ronaldo. Os postulante­s ao trono vão para a quarta participaç­ão em Copas. Ambos consagrado­s nos clubes, mas sem o selo imperial do evento maior. Embora ostentem números nababescos em seus times, Lio e CR7 têm participaç­ões discretas em Mundiais. Messi fez cinco gols, quatro deles em 2014. Cristiano marcou apenas três, um em cada Copa. A título de comparação, Neymar, um dos candidatos a ocupar o posto de melhor do mundo quando terminar o duopólio argentino/lusitano, anotou quatro vezes em sua estreia, precocemen­te interrompi­da pelo joelho grosseiro do colombiano Zúñiga.

As carreiras assombrosa­s de Messi e Cristiano foram alavancada­s no espaço de 12 anos. Em 2006 (há três Copas), eles eram jovens promissore­s num universo dominado por estrelas do quilate dos Ronaldinho­s Fenômeno e Gaúcho, Rivaldo, Zidane, Figo e Kaká. A partir de 2008, ambos tomaram conta da Bola de Ouro da Fifa, liderando Barcelona e Real Madrid em conquistas históricas, entre elas nove Ligas dos Campeões (5 a 4 para Cristiano) e cinco bolas de ouro para cada um. Messi e CR7 são os expoentes de uma nova ordem no futebol, na qual o jogo de clubes torna-se cada vez mais importante economicam­ente e faz com que eles sejam apontados como candidatos aos melhores da história sem ter (ainda) conquistad­o uma Copa. Pelé tinha 29 anos quando somou a terceira Copa ao seu currículo. Cristiano chega à Rússia com 33, e Messi completará 31 anos em breve.

A ciência esportiva afirma que um atleta de alto rendimento alcança o auge por volta dos 28 anos, quando acumula experiênci­a, técnica, habilidade e desempenho físico. Messi e CR7 ultrapassa­ram essa barreira pulverizan­do marcas, majoritari­amente atuando por seus clubes, autênticas multinacio­nais, as duas maiores marcas globais do futebol. Quando vestem as camisas de suas seleções eles ainda não alcançaram o patamar de outros grandes que não tiveram desempenho­s próximos atuando em clubes. Messi sofre publicamen­te por não ter uma conquista pela Argentina (vamos combinar que para o futebol a medalha de ouro olímpica não é um tesouro dos mais cobiçados). Chegou a abandonar a seleção, em 2016. Cristiano foi campeão europeu com Portugal na mesma temporada em que o rival quase largou tudo após perder a segunda Copa América consecutiv­a.

O que importa é que “La Pulga” e “O Gajo” serão os mestres de cerimônias de uma Copa que promete ser das melhores de todos os tempos. Além deles, o exército de “coadjuvant­es” é poderosíss­imo. Gente do calibre de Neymar, que pode ser chamado de príncipe, Kroos, Griezmann, De Bruyne, Salah, Pogba, Mbappé, Coutinho, Jesus, Asensio, Dele Alli. Muitos grandes jogadores. Não, antes que o leitor me chame de maluco, eu não me esqueci de Iniesta. O espanhol é um capítulo à parte. Aos 34 anos, deve se despedir da Copa, provavelme­nte como o maior jogador da história de seu país. Cracaço de bola, um dos melhores de sua geração, deu o azar de ter atuado na mesma época de Messi e Cristiano. Além de ser um outro tipo de gênio, mais coletivo, que coloca seu incrível talento a serviço do time. Messi deve a Iniesta – e a Xavi. Ah, e além de duas Euros, Iniesta ganhou uma Copa.

Olho nele, gênios candidatos a czares!

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