Futebol é capítulo da história social do País, diz sociólogo.
Esporte, representado na Copa pela seleção de Tite, é uma marca vitoriosa da cultura brasileira, diz professor
Em tempos de crise econômica e moral, o futebol resgata as “raízes mais profundas” da coletividade nacional e entra em campo como uma “marca vencedora” da sociedade brasileira, diz o sociólogo Mauricio Murad, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da Universidade Salgado de Oliveira. Ele será um dos palestrantes do USP Talks desta terça-feira, sobre “Futebol: Esporte, Cultura e Paixão”.
O que o futebol tem de tão especial, que faz dele esse fenômeno mundial, tão apaixonante?
Eu destacaria três características: 1) Poucas regras, claras e simples, que dificilmente mudam; 2) É um esporte barato, que exige poucos e simples equipamentos para ser praticado, e não custa nada para se organizar uma pelada de rua; 3) É a modalidade mais imprevisível, onde o fraco pode vencer o forte com mais frequência, e assim imita a vida como ela é.
E por que ele deu tão certo no Brasil, a ponto de sermos conhecidos como “o país do futebol”? No Brasil, a história do futebol é um capítulo da nossa história social, da luta contra a discriminação racial e de classe. Por isso o futebol representa tanto a coletividade do País; as nossas raízes mais profundas.
Historicamente, qual é o papel do futebol na construção e evolução da cultura brasileira?
O futebol brasileiro representa a consolidação de uma identidade coletiva, de um símbolo nacional, apesar de todas as suas contradições, de todos os seus prós e contras. Esse processo de consolidação aconteceu entre as décadas de 1940 e 1960; época em que a cultura brasileira procurava pensar o nosso País, por meio de suas raízes históricas e sociais.
Qual é a importância desta Copa para o Brasil, considerando o momento político e econômico? A possibilidade de se confirmar que, no Brasil, quem fracassa de verdade são as elites políticas e econômicas, que vivem uma profunda crise, sobretudo moral. Apesar da trágica corrupção dos governos, dos empresários, da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e de suas federações, o futebol como arte e cultura popular pode mostrar a sua marca vencedora – a mesma marca histórica e cultural que está na base da capoeira, do samba, do frevo, do carnaval e de outras festas e celebrações populares, símbolos do País.
Serviço
USP TALKS. TERÇA-FEIRA, DAS 18H30 ÀS 19H30, NO AUDITÓRIO DO MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO (MASP), AV. PAULISTA 1.578. O EVENTO É GRATUITO.