Antes da greve, economia mostrou fôlego
Prévia do PIB elaborada pelo BC cresceu 0,46% em abril; para analistas, dado é ‘ultrapassado’
Após dois meses de retração, a atividade econômica no Brasil voltou a crescer em abril. O Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br), divulgado ontem pela instituição, indicou alta de 0,46% em abril ante março, considerando a série já livre de efeitos sazonais. De janeiro a abril, o indicador registrou elevação de 1,55%, no melhor resultado desde 2014.
É mais um indicador a demonstrar que, depois de um primeiro trimestre fraco, a economia brasileira mostrou reação no início do segundo trimestre. A indústria cresceu 0,8% em abril, o varejo teve alta de 1% e os serviços também cresceram 1%. Essa tentativa de recuperação, porém, provavelmente foi solapada em maio pela greve dos caminhoneiros.
De acordo com o economistachefe da SulAmérica Investimentos, Newton Camargo Rosa, o IBC-Br de abril mostrou uma “histórica ultrapassada”, porque a greve dos caminhoneiros em maio mudou o cenário. “O que se imaginava sobre o segundo trimestre ser melhor do que o primeiro trimestre praticamente se reverteu e, agora, acreditamos que o segundo trimestre pode ter uma queda da atividade”, afirmou Rosa.
Conhecido como uma espécie de “prévia” do BC para o Produto Interno Bruto (PIB), o IBC-Br serve como parâmetro para avaliação do ritmo da economia brasileira ao longo dos meses. Atualmente, a previsão do próprio BC para o PIB em 2018 é de avanço de 2,6%, mas este porcentual, divulgado em março, já se mostra desatualizado, considerando os dados mais recentes de atividade e os efeitos da greve dos caminhoneiros sobre a atividade. O Ministério da Fazenda vem projetando um crescimento de 2,5% do PIB este ano.
Para o economista-chefe da gestora de fundos Kapitalo Investimentos, Alfredo Binnie, o IBC-Br de abril mostrou um quadro melhor para a atividade no início do segundo trimestre de 2018. No entanto, segundo ele, a piora recente nas condições financeiras deve produzir impacto negativo sobre o PIB do ano, mais até que a greve dos caminhoneiros.
“A greve deve ter impacto direto sobre a atividade, mas parte deve ser recuperada. As condições financeiras mudaram na mesma época”, pontuou Binnie. “As taxas dos contratos futuros de juros futuros subiram muito e o câmbio ficou mais desvalorizado. Os índices de confiança devem todos cair. E isso deve ter um impacto na atividade à frente”, acrescentou o economista, que projeta alta de apenas 1,2% para o PIB este ano.
Os impactos da greve dos caminhoneiros e das mudanças nas condições financeiras tendem a ser tão relevantes que algumas instituições financeiras projetam até retração da atividade neste segundo trimestre. O Banco MUFG Brasil projeta preliminarmente que o IBC-Br deve ter queda de 0,26% no segundo trimestre, ante o período de janeiro a março. “Considerando que o crescimento foi menor do que o esperado (em abril), e prevendo que a contração em maio será acentuada, existe uma possibilidade significativa de o IBC-Br registrar uma contração no segundo trimestre”, disse a instituição, em relatório.
“O que se imaginava sobre o 2.º trimestre ser melhor do que o 1.º trimestre praticamente se reverteu e, agora, acreditamos que o 2.º trimestre pode ter uma queda da atividade.” Newton Camargo Rosa
ECONOMISTA-CHEFE DA
SULAMÉRICA INVESTIMENTOS