Para garantir sobrevivência, Odebrecht negocia a Braskem, sua ‘joia da coroa’
Acordo. Grupo baiano confirmou conversas para unir petroquímica, que concentra 60% de suas receitas, ao grupo LyondellBasell, da Holanda, formando líder do setor; negócio depende de aval de bancos, pois R$ 12 bi em ações da Braskem viraram garantia de dív
Três semanas depois de fechar com os bancos um empréstimo de R$ 2,6 bilhões para honrar dívidas já vencidas, a Odebrecht anunciou ontem um acordo de exclusividade com a holandesa LyondellBasell para vender seu principal ativo: a Braskem. A petroquímica brasileira, responsável por quase 60% das receitas do grupo, é hoje a sexta maior do mundo e vale quase R$ 39 bilhões. O grupo baiano detém 38,3% do capital da companhia e a Petrobrás, 36,1%.
Considerada a “joia da coroa”, a Braskem é mais um negócio na lista de empresas que a Odebrecht foi obrigada a vender para adequar a dívida à nova realidade (leia quadro acima ). Desde o início da Operação Lava Jato, a carteira de obras da construtora encolheu em R$ 70 bilhões (US$ 19 bilhões, pela cotação de ontem) enquanto as dívidas começaram a vencer. Nesse período, a Braskem foi a salvação para o grupo conseguir honrar seus compromissos por causa da alta valorização da empresa.
O negócio com a LyondellBasell começou a ser discutido no ano passado e foi paralisado em março, quando a Odebrecht começou a negociar com os bancos o novo financiamento. As conversas só retornaram após a liberação dos recursos. Por enquanto, não há uma proposta firme, mas as negociações devem avançar nas próximas semanas com o início do processo de due diligence (levantamento de dados financeiros).
Se for adiante, o negócio criará a maior petroquímica do mundo, com receitas de US$ 49 bilhões (R$ 182 bilhões) e 96 fábricas em 17 países. O anúncio das negociações fez as ações da Braskem subiram 19,67%, cotadas a R$ 49,21. Entre os analistas há quem aposte que a oferta da LyondellBasell ultrapasse R$ 60 por ação.
O Estado apurou que o objetivo da Odebrecht é continuar com uma participação minoritária na petroquímica. Uma das opções seria o grupo vender sua participação e receber uma parte em ações da holandesa e outra em dinheiro.
Segundo analistas, o negócio seria bom para o grupo, que se tornaria sócio da maior petroquímica do mundo. Além disso, a holandesa é uma empresa com capital pulverizado (corporation) e tradicionalmente uma boa pagadora de dividendos. De 2010 para cá, a companhia pagou US$ 30 bilhões em bônus para os acionistas, afirmam fontes.
Ao se tornar sócio de um grupo mais forte e que paga mais dividendos, a Odebrecht teria dinheiro para capitalizar a construtora – que se tornaria o principal ativo do conglomerado, após a venda da Braskem.
Dívidas. Mas o fechamento do negócio com a LyondellBasell precisará ter o aval dos bancos credores, que acabaram de conceder um novo empréstimo para o grupo. Isso porque parte da dívida da Odebrecht está garantida com ações da Braskem. Da participação de quase R$ 15 bilhões que a empresa tem na petroquímica, R$ 11,9 bilhões estão em garantia.
Fonte ligada aos credores afirma que, se as partes chegarem a um acordo para venda, a Odebrecht terá de pagar aos bancos os empréstimos. Se o acordo for uma fusão, será necessário pedir que os bancos credores aceitem ações da LyondellBasell em garantia.
Decisão da Petrobrás. A conclusão do negócio também dependerá de negociações com a Petrobrás, que ainda precisa renovar o contrato de fornecimento de nafta para a Braskem. Em nota, a estatal afirmou que “caso a negociação seja finalizada com êxito, irá analisar os termos e condições da oferta de forma a avaliar o exercício dos seus direitos previstos no Acordo de Acionistas”.
A Petrobrás poderá exercer a preferência na compra da petroquímica ou optar pelo tag along – mecanismo que estende aos minoritários o direito de venderem suas ações pelo mesmo preço pago aos controladores. O mercado aposta na segunda opção, pois a Petrobrás já oficializou ao mercado seu desejo de se desfazer da fatia na Braskem.