Prêmio Jabuti sem curador
Após polêmica, Luiz Armando Bagolin se demite do cargo
Desde que anunciou sua reformulação, em maio, quando excluiu categorias – eram 29, agora são 18 – e uniu outras tradicionais, como Infantil e Juvenil, o Prêmio Jabuti vem sendo alvo de debate – acirrado nesta semana com a publicação de um artigo do produtor cultural Volnei Canônica no site PublishNews, respondido, no próprio texto, por Luiz Armando Bagolin, curador do prêmio, de forma considerada homofóbica.
Professor e ex-diretor da Biblioteca Mário de Andrade, ele ironizou a posição de Canônica, contra as mudanças no regulamento, afirmando que ele defendia “principalmente” o companheiro, o ilustrador Roger Mello, a quem chamou de “seu amor”. Na mensagem, pública, Bagolin citou ainda o Dia dos Namorados e mandou beijos para os dois.
Nesta sexta, 15, a Câmara Brasileira do Livro recebeu uma carta do curador pedindo seu afastamento. Em nota, a CBL diz que “Bagolin renunciou ao cargo de curador com o intuito de evitar prejuízo ao prêmio e à CBL, depois que um debate na internet sobre críticas à premiação tomou direção de natureza pessoal”.
Quanto a isso, na carta, Bagolin disse: “Não tive condão de ofender! Penso, entretanto, que as discussões tomaram uma direção de natureza muito pessoal, infelizmente e injustamente, por ambas as partes, e o livre debate de opiniões ficou distorcido e prejudicado”.
Sobre argumentos de Canônica envolvendo ilustração e o Livro dos Mortos, Bagolin disse: “Não posso, como professor, deixar de corrigir alguém que afirma a existência do Livro dos Mortos como exemplo de um ‘livro ilustrado’, ‘um dos mais antigos da humanidade’. O Livro dos Mortos, egípcio, é uma invenção de um arqueólogo alemão do século 19. O conceito ‘ilustração’ também data deste século.”
Antes desse conflito, importantes autores de livros para crianças e adolescentes e ilustradores já haviam se pronunciado contra o Jabuti, dizendo que não iriam concorrer nesta edição.
A Câmara Brasileira do Livro afirmou que não haverá novo
curador, mas não dá mais informações sobre o que acontece agora com o regulamento – se haverá uma revisão. As inscrições das obras terminam dia 28.
Luiz Armando Bagolin era o curador e tinha a seu lado, no conselho, Tarcila Lucena, Mariana Mendes, Pedro Almeida e Jair Marcatti. O próximo passo
seria a escolha dos jurados de cada uma das categorias.
Ainda em sua carta, Bagolin disse que “toda mudança gera desconforto, e todo desconforto gera medo”. Sobre a questão do gênero infantil e juvenil, ele citou o prestigioso Prêmio Hans Christian Andersen, que existe desde 1956 e tem duas categorias apenas: Melhor autor em literatura infantil e juvenil e Ilustração infantil. “Não há que eu saiba atualmente nenhum manifesto ou mobilização de nossos autores, ilustradores e editores para que haja uma mudança no Hans Christian Andersen”, comentou. O ex-curador disse ainda estar sendo insultado nas redes sociais e que “não é possível prosseguir, sem liberdade de pensamento e sem autonomia de condução dos princípios que foram desenhados para sustentar o novo projeto”.