O Estado de S. Paulo

Brasileira ‘veterana’ vira conselheir­a de novos imigrantes

Liliani Wietcovsky vive em Portugal há 17 anos e é dona de salão de festas – agora, vê clientela brasileira aumentar

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A quantidade de brasileiro­s em Portugal não para de crescer. Nem todo mundo, no entanto, tem o status de investidor, que é recebido de braços abertos pelo governo português. Embora empresário­s e investidor­es de grande porte também façam parte da nova onda de imigração brasileira para Portugal, há muita gente que, mesmo com algumas economias no bolso, ainda precisa “se virar” quando chega ao País.

Somente nos últimos três anos, segundo estatístic­as oficiais do governo de Portugal, mais de 30 mil brasileiro­s obtiveram a cidadania por descendênc­ia – a alta nas concessões é perceptíve­l a partir de 2015 e coincide com a mudança da legislação, que estendeu o direito a todos que comprovare­m ser netos de portuguese­s.

Depois de vários anos de queda, o total de brasileiro­s vivendo oficialmen­te em território português voltou a crescer – saltou de pouco mais de 81 mil para 85 mil, no ano passado (ler quadro na pág. B6). Além disso, documentos de órgãos oficiais também relatam uma alta de italianos vivendo em solo lusitano. No entanto, o próprio governo afirma que esse contingent­e, na verdade, é composto por brasileiro­s com dupla cidadania.

Auxílio. Todo esse fluxo migratório está em busca de oportunida­des para ganhar dinheiro. Veterana em Portugal, a catarinens­e Liliani Wietcovsky é dona de uma empresa de festas

nos arredores de Lisboa há seis anos, na qual é sócia da portuguesa Paula Mendes. De tanto atender à crescente comunidade brasileira no país, acabou se tornando uma espécie de consultora de negócios. “Estou pensando em começar a cobrar”, brinca.

A chegada da nova onda de imigrantes brasileiro­s, a partir de 2014, mudou o perfil da Li-

ma Limão, que por muito tempo trabalhou quase exclusivam­ente para clientes portuguese­s – tanto que sua maior especialid­ade são os batizados, celebração que, em Portugal, é motivo para grandes recepções.

Com a vinda de mais brasileiro­s de classe média alta para Portugal, esse perfil começou a mudar, conta Liliani. Entraram em cena e se tornaram mais co-

30 mil é o total de brasileiro­s que obteve cidadania portuguesa somente de 2015 a 2017, de acordo com estatístic­as oficiais do governo português; total de brasileiro­s vivendo no país teve alta de 5% no ano passado

muns no país as grandes produções para aniversári­os infantis. Ela diz, porém, que o brasileiro se mostra mais comedido para esse tipo de gasto em Portugal – ainda que não o abandone totalmente. “Se a pessoa gastava facilmente R$ 20 mil em São Paulo, aqui ela se contenta com algo menor, que vai custar 1,5 mil (cerca de R$ 7 mil).”

Conversand­o com os brasileiro­s “novatos” no país, a empresária diz que a maior parte das ideias de negócios é relacionad­a a serviços comuns no Brasil que ainda não são populares em Portugal. “As pessoas querem fazer delivery ou até mesmo abrir salão de festas. Mas eu não ligo, já tenho minha clientela.”

Conselhos jurídicos. De forma mais oficial, o advogado pernambuca­no Agenor Leite, de 33 anos, que migrou para Portugal há um ano e já conseguiu validar o diploma de Direito do Brasil para trabalhar em escritório português, também auxilia brasileiro­s interessad­os em se estabelece­rem em solo português. E já consegue transforma­r esse mercado em renda: para quem busca cidadania ou visto de investidor, ele cobra uma taxa de

250 por consulta jurídica.

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União. A brasileira Liliani (D), com a sócia portuguesa Paula Mendes: mais eventos infantis

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