Confirmado candidato, Ciro ataca ‘baronato’ em convenção
Sem o Centrão, pedetista ataca mercado financeiro usando expressão de 2002
Ciro Gomes foi confirmado ontem, em convenção, candidato do PDT à Presidência da República. Um dia após ser preterido pelos partidos do Centrão, ele fez discurso com críticas ao mercado financeiro, a quem chamou de “baronato”, como nas eleições de 2002. “Essa gente quebrou o nosso País a pretexto de austeridade”, disse. Apesar do tom, Ciro tentou se mostrar como um nome de conciliação.
Isolado politicamente após ser preterido pelos partidos do Centrão, Ciro Gomes oficializou sua candidatura ontem na sede do PDT, em Brasília, com críticas ao mercado financeiro. “Essa gente quebrou o nosso País a pretexto de austeridade”, disse. Ele voltou a se referir ao mercado como “baronato” – mesma expressão que usava nas eleições de 2002.
Apesar do tom, Ciro também tentou se vender como um nome moderado, conciliador e capaz de abraçar as agendas do Centrão e da esquerda. No discurso lido, sem improviso, o presidenciável misturou rigor fiscal, segurança pública e afagos à classe média com homenagens a Leonel Brizola e elogios ao governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A última vez que o PDT lançou um candidato à Presidência foi em 2006, com o senador Cristovam Buarque (DF), que atualmente está no PPS. Com a ausência de dirigentes de outros partidos, a sombra do “não” do Centrão pairou sob a convenção. Pedetistas se esforçaram para diminuir a força dos que agora se juntaram à candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB).
Antes da chegada de Ciro ao evento, seu coordenador da campanha, o ex-governador Cid Gomes, afirmou que “a prioridade sempre foi uma aliança progressista, principalmente com o PSB”. O líder do partido no Congresso, André Figueiredo, foi ainda mais longe: “Com a
saída do Centrão, a questão da vice fica mais simples de resolver. Acredito que ela possa ser oferecida ao PSB”, disse.
Sem a presença de representantes na homologação de Ciro, nomes do PSB e do PCdoB pedem mais tempo para a definição. No PSB, por exemplo, dirigentes falam que a tendência para uma coligação com o PDT já não é mais majoritária. A reunião da executiva do PSB, que iria deliberar sobre o assunto, já foi adiada duas vezes e deve ocorrer no dia 30 de julho. A ala nordestina do partido quer fechar com o PT e a tese de candidatura própria ou de neutralidade têm conquistado mais adeptos.
No PCdoB, a presidente da legenda, Luciana Santos, mantém o discurso de “união do campo da esquerda”, mas não define se essa união poderia se dar ao redor de Ciro. A candidatura de Manuela d’Ávila continua de pé.
Asa Branca. Foi nesse contexto que Ciro chegou à convenção. Ao som de Asa Branca e “Brasil pra frente, Ciro presidente”, o candidato fez uma rápida aparição no palco montado na ala externa da sede do partido. Lá, enalteceu o nome de Brizola e se disse inspirado por ele. Depois, no salão do local, ele foi aclamado como presidenciável e deu início ao discurso.
Ciro não deixou de responder, no entanto, às críticas que recebeu do mercado financeiro por algumas de suas propostas. “Essa gente quebrou o nosso País a pretexto de austeridade. Querem matar o carteiro para que o povo brasileiro não leia a carta”, disse antes de fazer referência ao montante pago em juros de dívida pública. “Que me persigam, mas, somente com juros, este ano, gastaram R$ 380 bilhões. É difícil explicar ao povo, mas a sociedade brasileira está devendo R$ 5 trilhões ao baronato”, completou. A expressão “baronato” é uma referência a “barões da Paulista”, expressão que Ciro usava na campanha de 2002 quando queria criticar agentes do mercado financeiro.
Um claro afago à esquerda foi a deferência ao governo de Lula. “Depois de tudo que houve com o ex-presidente Lula, nossa responsabilidade aumenta muito”, disse.