Igreja convoca oração de exorcismo na Nicarágua
Bispos católicos foram qualificados de ‘golpistas’ por Ortega por pedir a antecipação das eleições
A Igreja Católica da Nicarágua iniciou ontem uma jornada de jejum e orações a São Miguel Arcanjo, em “desagravo pelas profanações” dos últimos três meses “contra Deus”, em razão da violência que já deixou quase 300 mortos desde abril.
A oração de exorcismo foi realizada em todos os templos católicos para combater o espírito do mal no país, segundo disse o episcopado, que atua como mediador de um diálogo nacional para superar a grave crise política.
Na quinta-feira, o presidente Daniel Ortega qualificou de “golpistas” todos os bispos e afirmou que são cúmplices das forças internas e de grupos internacionais que, em sua opinião, atuam na Nicarágua para derrubá-lo. O presidente fez as acusações diante de milhares de sandinistas em uma praça da capital Manágua, durante comemorações do 39.º aniversário da revolução de 1979.
No dia 7 de junho, a Igreja Católica propôs a Ortega a antecipação para março de 2019 das eleições previstas para 2021, e pediu que ele não se candidatasse. O presidente rejeitou a proposta e afirmou que os bispos estavam “comprometidos com um golpe”.
Durante as orações de ontem, os bispos pediram “especialmente aos policiais, militares e demais funcionários públicos” que apoiam a violência contra os nicaraguenses por ordem do governo que reflitam sobre a “grave e urgente” situação do país e tomem as decisões de acordo com sua consciência e se comprometam a defender a vida, a verdade e a justiça”.
Mais de 58% dos 6,3 milhões de habitantes da Nicarágua se consideram católicos. O país atravessa a crise sociopolítica mais sangrenta desde a década de 80.