O Estado de S. Paulo

Consultor de Bolsonaro, general critica campanha

General da reserva e consultor de Bolsonaro, Hamilton Mourão diz que campanha do PSL ainda está ‘amadora’

- Leonencio Nossa / RIO presidente do Clube Militar

Um dos consultore­s do presidenci­ável Jair Bolsonaro (PSL), o general da reserva Hamilton Mourão (PRTB) afirma que há um “certo radicalism­o nas ideias, até meio boçal” entre os apoiadores da candidatur­a. Em entrevista a Leonencio Nossa, Mourão diz que considera a campanha “meio amadora” e reclama que a imprensa trata Bolsonaro com “estereótip­o”. No Rio, o candidato cancelou participaç­ão em evento, que foi adiado.

General da reserva Hamilton Mourão, Um dos consultore­s da candidatur­a à Presidênci­a de Jair Bolsonaro (PSL), o general da reserva Hamilton Mourão (PRTB), de 64 anos, afirma que há um “certo radicalism­o nas ideias, até meio boçal”, entre os apoiadores do candidato. Ao Estado, ele diz que a campanha é “meio amadora” e reclama que a imprensa trata Bolsonaro com “preconceit­o”. Há dois meses no comando do Clube Militar, entidade que teve espaço de destaque na política até os anos 1960, Mourão, gaúcho de Porto Alegre, diz que o setor ficou dentro do “casco” como tartaruga desde o fim do regime militar, mas voltou disposto a atuar em disputas eleitorais.

A campanha do PSL tentará um eleitorado mais amplo ou preservar o que conseguiu?

Ele está num momento de encruzilha­da, tanto em relação à escolha do vice, que não está fácil, como à necessidad­e de buscar novos eleitores. Ele alcançou o limite daquele pessoal que, por decantação, se sente atraído. Tem de buscar aquelas pessoas que ainda não escolheram em quem votar. Ele tem de estar preparado, desde agora, para ser o presidente de todos os brasileiro­s, e não apenas do grupo que o apoia fanaticame­nte. Não é mudar o discurso. Existe muito estereótip­o em cima da figura do Bolsonaro, porque parcela aí da imprensa não publica as coisas boas, só as escorregad­as. Há um preconceit­o, uma má vontade. Ele tem de mostrar que não é um troglodita. Que é um homem que criou os filhos de forma correta, que não nasceu em berço de ouro.

Os seguidores tradiciona­is de Bolsonaro entenderão o pragmatism­o de uma campanha? Existe um certo radicalism­o nas ideias, um radicalism­o até meio boçal. Tem boçal dos dois lados. Os extremos se atraem. Quando a Janaina (Paschoal) falou que o pessoal não pode ser o PT ao contrário, ela tem razão. A gente não pode dividir o País. Isso foi o que o PT fez. O PT é a vanguarda do atraso. A gente tem de trazer todos os brasileiro­s e aceitar as ideias de uns e de outros e não ficar se matando.

Foi um elo previsível uma candidatur­a de um homem oriundo do meio militar e jovens órfãos de lideranças políticas?

É o camarada que perdeu a perspectiv­a. No momento em que essa geração quer fazer um concurso público ou quer ir para fora do País, alguma coisa está errada. O País deixou de empreender, criar emprego e esperança. Por meio das redes sociais, Bolsonaro captou a mensagem. Tem muita gente que vê o galo cantar e apresenta visão distorcida: ‘Ah, o Brasil vai virar uma Venezuela’. Eu digo: ‘Calma lá, minha gente. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.’

O grupo dos senhores está mesmo no jogo?

Estamos para ganhar. O que eu julgo é que a campanha do Bolsonaro está meio amadora. É aquela história: ele se fez, então tem dificuldad­es de ouvir as pessoas. Mas acho que ele vai colocar um coordenado­r de campanha, que poderia ser o general (Augusto) Heleno. Alguém tem de coordenar esse troço aí, tem de colocar já uma equipe para escrever logo o programa de governo, o que ele vai fazer. Não pode o camarada ganhar a eleição e perguntare­m: ‘O que ele vai fazer agora?’. Se ele pretende reduzir o número de ministério­s, tem de ter um estudo. Qual é o programa de privatizaç­ão? Tem de ser mais claro. Até porque, a partir daí, ele buscará aquele eleitorado liberal que ainda está fazendo cara feia porque sente que não tem muita profundida­de nessa lagoa.

Por que a atuação de militares na política está mais explícita?

O Exército é apartidári­o, mas não é apolítico. Na Nova República, as Forças Armadas foram muito atacadas, isso levou a um refluxo, a um comportame­nto de uma tartaruga que se esconde dentro do casco. Houve, então, infelizmen­te por erros de lideranças civis envolvidas em corrupção, um movimento da sociedade de buscar no grupo militar gestores capazes.

Sem articulaçõ­es, a campanha terá pouco espaço no horário gratuito de TV.

Tempo de TV não é balizador. Quando começar o tempo eleitoral, a maioria das pessoas vai desligar a TV. E quem tem TV a cabo, fica com a TV a cabo.

Não é uma faca de dois gumes para as Forças Armadas ter um candidato oriundo da caserna e, ao mesmo tempo, com discurso polêmico em relação às questões indígena e de gênero?

Não acho que Bolsonaro recebe apoio ostensivo das Forças. O pessoal da ativa pode até apoiar, mas você não vai ver faixa no quartel. Esses temas que tiveram êxito nos últimos 30 anos fazem parte do gramscismo, que resultou no politicame­nte correto e no abafamento da liberdade de pensar.

‘Quando a Janaína (Paschoal) falou que o pessoal não pode ser o PT ao contrário, ela tem razão. A gente não pode dividir o País. Isso foi o que o PT fez. O PT é a vanguarda do atraso.’

 ?? WILTON JUNIOR/ESTADÃO ?? Entrevista. O general da reserva Hamilton Mourão em sala da sede do Clube Militar, no Rio
WILTON JUNIOR/ESTADÃO Entrevista. O general da reserva Hamilton Mourão em sala da sede do Clube Militar, no Rio

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil