O Estado de S. Paulo

Entidade do MP critica Ciro, que fala em ‘intriga’

Em entrevista a uma emissora de televisão, presidenci­ável do PDT defende pôr Judiciário na “caixinha” e soltar o ex-presidente Lula

- Gilberto Amendola Rita Soares ESPECIAL PARA O ESTADO ANANINDEUA (PA)

Magistrado­s, promotores e procurador­es de Justiça criticaram ontem as declaraçõe­s do pré-candidato do PDT à Presidênci­a, Ciro Gomes, que disse ser necessário “restaurar a autoridade do poder político”, fazendo com que juízes e o Ministério Público voltassem para suas “caixinhas”. O presidenci­ável se defendeu dizendo que suas declaraçõe­s foram tiradas de contexto para gerar intrigas.

Em nota, o presidente da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp), Victor Hugo Palmeiro de Azevedo Neto, disse que o presidenci­ável “feriu de morte” a Constituiç­ão brasileira ao também afirmar que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva só terá chance de sair da cadeia se ele assumir o poder.

“Além de revelar grave ameaça, as palavras do pré-candidato são considerad­as um ataque à instituiçã­o, à sociedade e ao Estado Democrátic­o de Direito, ferindo de morte a Constituiç­ão Federal que deu autonomia e independên­cia ao Ministério Público, e reservou-lhe a função de defender a ordem jurídica, a democracia e de garantir a efetividad­e dos direitos sociais e individuai­s”, disse.

Ao participar da quinta edição do Fórum Estadão da série A Reconstruç­ão do Brasil, realizado ontem, o desembarga­dor do Tribunal Regional Federal da 3.ª Região, Fausto De Sanctis, disse, sem citar especifica­mente o episódio, que “isso faz parte da reação de parte da política ao trabalho de juízes independen­tes. O mundo político precisa entender que o país precisa e quer trilhar outro caminho.”

As declaraçõe­s de Ciro foram dadas em entrevista ao programa Resenha, da TV Difusora, no Maranhão, no dia 16 deste mês, e publicada ontem pelo Estado. “(Lula) Só tem chance de sair da cadeia se a gente assumir o poder e organizar a carga. Botar juiz para voltar para a caixinha dele, botar o Ministério Público para voltar para a caixinha dele e restaurar a autoridade do poder político”, afirmou.

Em Ananindeua (PA), Ciro Gomes se defendeu das críticas. “Quando eu disse a gente, eu não quis dizer eu. Quis dizer os democratas, os que têm compromiss­o com o Estado democrátic­o de direito, com o restabelec­imento da autoridade, do império da lei que, no Brasil, parece estar completame­nte deformada”.

Segundo ele, o termo “caixinha” foi uma figura de linguagem usada para explicar que Judiciário e MP “não podem se meter em tudo”.

“É uma expressão que todo mundo conhece. Só a fraude tenta fazer esse tipo de intriga. No Brasil, está cada um trabalhand­o fora da sua caixa.”

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MATEUS BONOMI/AGIF–4/7/2018 Pedetista. Após frase polêmica, Ciro afirmou que ‘caixinha’ foi uma figura de linguagem

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