O Estado de S. Paulo

‘APENAS PRISÃO NÃO RESOLVE A CORRUPÇÃO’

- / MARIANNA HOLANDA, GILBERTO AMENDOLA, JULIA AFFONSO e MARCELO OSAKABE

A corrupção sistêmica no País não será resolvida apenas com punição. São necessária­s reformas, políticas públicas e leis. A avaliação foi um dos poucos consensos entre o juiz Sérgio Moro, o criminalis­ta Antonio Cláudio Mariz de Oliveira e o promotor do Ministério Público de São Paulo Marcelo Mendroni, que participar­am ontem do Fórum Estadão.

O principal tema do debate foi se as prisões preventiva­s ou após segunda instância contribuem, de fato, para aplacar a corrupção. “A prisão não é condição suficiente para a superação de corrupção sistêmica”, disse o juiz da 13.ª Vara Federal de Curitiba, que determinou a prisão de políticos na Lava Jato, incluindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“Precisa-se mandar a mensagem de que as condutas graves não ficarão impunes, mas é evidente que só punição não resolve o problema. São necessária­s políticas públicas mais gerais e exemplos de lideranças com atuação íntegra para que esse quadro de corrupção disseminad­a seja reconhecid­o.”

A ponderação refletiu, em parte, a fala de Mariz. O criminalis­ta, advogado do presidente Michel Temer, afirmou que “corrupção não se vence com a cadeia”. “Dizer que com a prisão está se prevenindo o crime é uma falácia. O que antecipa o crime são medidas tomadas antes (do crime ser cometido).”

No banco dos réus, disse o criminalis­ta, também tem inocentes. Pediu “devida venia” aos palestrant­es, e afirmou que o primeiro grau do Judiciário “está punindo excessivam­ente”.

Punição. Do outro lado da discussão, o promotor elogiou o pacote contra a corrupção elaborado pelo Ministério Público. Medidas que possam ajudar na prevenção de médio e longo prazos são bem-vindas, disse. Mas sua análise é de que País chegou ao atual nível de corrupção sobretudo por uma falta de punição.

Mendroni defendeu um prisão preventiva mais ampla, e avaliou que esperar a decisão da segunda instância é muito demorado. “Corruptos que desviam muito dinheiro tinham de ser presos preventiva­mente. Esperar uma decisão do Supremo Tribunal Federal até o trânsito em julgado seria absolutame­nte admitir que não existe punição para corrupto no Brasil.”

Mariz fez um contrapont­o à fala do promotor. “Daremos uma oportunida­de a mais para que haja uma declaração da Justiça que dará mais segurança àquela condenação ou absolvição”, disse o criminalis­ta.

Habeas corpus. Mendroni criticou ainda o que considera “exagero” na concessão de habeas corpus. “O habeas corpus se tornou hoje um remédio para qualquer coisa e raramente para coibir uma situação legal. Pode curar dor de cabeça, unha encravada. Virou um instituto prostituíd­o”, afirmou o promotor.

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