O Estado de S. Paulo

As Forças Especiais que sustentam Ortega estão insatisfei­tas

- Roberto Godoy

Oregime de Daniel Ortega, quatro vezes presidente da Nicarágua, é sustentado principalm­ente pelo Batalhão de Forças Especiais do Exército (FE) e pela Polícia Nacional, submetida diretament­e ao gabinete do ex-líder revolucion­ário que governa o país desde 2007. No total, as Forças Armadas nicaraguen­ses somam 14 mil soldados, um efetivo significat­ivamente menor que os 45 mil alistados regularmen­te durante os 11 anos da revolução sandinista, entre 1979 e 1990. Os 800 combatente­s das FE cuidam da segurança presidenci­al, controlam os voos do pequeno avião oficial usado por Daniel Ortega, um bimotor Cessna 404 em versão executiva e – garantem os líderes de oposição – também treinam os paramilita­res que, há pouco mais de dois meses, reprimem manifestan­tes contrários ao governo – desde 18 de abril, ao menos 277 pessoas morreram nos confrontos.

A garantia do apoio militar a Daniel Ortega, um líder de 72 anos, violento e sem discurso, está longe da unanimidad­e na tropa. Oficiais jovens, formados em cursos de especializ­ação fora da Nicarágua – no Leste Europeu principalm­ente – reivindica­m a criação de uma estrutura de Defesa moderna, voltada para a segurança das fronteiras e a repressão ao narcotráfi­co.

O país é usado sem muita dificuldad­e como entreposto regional pelos cartéis mexicanos de drogas. Por mensagens postadas nas plataforma­s sociais da internet e em sites de informação abrigados na Ásia, os descontent­es denunciam o estilo truculento do convívio com os dissidente­s políticos e o abandono do programa de recuperaçã­o das capacidade­s do Exército, da Aeronáutic­a e da Marinha, uma forte promessa de campanha de Ortega.

O desgosto se justifica. Em 1983, a Força Aérea recebeu da União Soviética 15 caças MiG-17 e encomendou 48 supersônic­os – 24 Mirage, na França, e 24 MiG-21, na URSS. Não recebeu nenhum. O lote mais antigo, dos MiG-17, foi desativado. Em março, a aviação militar começou a negociar com a Rússia o fornecimen­to de seis MiG-29 usados, mas modernizad­os. O conflito interno congelou as discussões.

A situação se repete no Exército, equipado com velhos tanques T-55 soviéticos, produzidos na extinta Checoslová­quia há 37 anos. Mísseis, canhões e fuzis são da mesma época. Radares e sensores de vigilância não usam sistemas eletrônico­s. Apenas o aeroporto de Manágua opera um núcleo digital de controle do tráfego aéreo. Sem isso, o terminal deixaria de receber voos internacio­nais e aeronaves de grande porte.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil