O Estado de S. Paulo

EUA deportaram mais de 400 pais sem seus filhos

Termina hoje prazo para o governo Trump reunir imigrantes ilegais e suas crianças, mas decisão judicial não será cumprida na íntegra

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O governo dos EUA chega hoje ao último dia do prazo dado pela Justiça para reunificar imigrantes ilegais a seus filhos, mas não cumprirá a determinaç­ão. Entre as razões, há uma insólita: pelo menos 463 pais foram deportados sem as crianças, que seguem em abrigos no país.

O governo prestou as informaçõe­s a um tribunal de San Diego, na Califórnia, na segunda-feira. Isso indica que o número de pais deportados sem os filhos no período de “tolerância zero” instituído entre abril e junho por Donald Trump, quando medidas severas foram adotadas contra indivíduos entrando ilegalment­e nos EUA, pode ser maior do que o declarado. O governo de Trump adotou como regra a separação de famílias com base em uma lei anterior, aplicada até então excepciona­lmente.

Hoje se esgota o prazo de 30 dias dado pelo juiz Dana Sabraw para o governo reunir o máximo possível de famílias separadas e na semana passada ordenou ao governo que esclareces­se quantos dos mais de 2.500 pais que deveriam ser reunidos com seus filhos não estão mais no país. Ele também suspendeu temporaria­mente as deportaçõe­s de famílias já reunidas. Sabraw disse que o governo poderia ser punido se não cumprisse a meta, mas não deixou claro que tipo de pena poderia ser imposta.

Advogados dos imigrantes afirmam que os pais foram pressionad­os a assinar formulário­s de deportação voluntária desesperad­os para serem libertados das prisões onde eram mantidos quando seus filhos e filhas foram separados e levados para abrigos do governo. Localizar essas pessoas na América Central será muito difícil e levará tempo.

O governo insiste que todos os pais imigrantes que foram deportados deram seu consentime­nto por escrito e foram devidament­e informados dos seus direitos em sua língua natal.

Segundo o documento apresentad­o na segunda-feira ao juiz, o governo reuniu 879 famílias. Outros 538 pais tiveram permissão para se reunir com os filhos e estavam aguardando transporte, o que significa que pelo menos a metade das famílias separadas deve estar reunida novamente até hoje.

Por ordem judicial, o governo deu prioridade aos casos envolvendo mais de 100 pais cujos filhos são menores de 5 anos, e depois disso passou a cuidar do grupo com filhos mais velhos, de 5 a 17 anos. Após uma checagem da origem e antecedent­es dos pais e confirmaçã­o da relação familiar, o governo faz uma entrevista com as mães e pais para perguntar se desejam seus filhos de volta antes de algum procedimen­to judicial.

Até agora, 130 pais não se reuniram com os filhos por opção própria, preferindo em alguns casos que as crianças sejam autorizada­s a permanecer nos EUA com um parente, enquanto seus recursos estiverem pendentes de julgamento.

Entre as mães reunidas com seus filhos está a brasileira Natalia Oliveira Silva. Ela se reencontro­u sua filha Sara, de 5 anos, na cidade de Pearsall, no Texas. Elas foram ajudadas pela Catholic Charities, que lhes deram roupas e depois pagaram suas passagens de ônibus .

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ERIC GAY/AP-23/7/2018 De volta. A brasileira Natalia Oliveira reencontra sua filha, Sara, de 5 anos, na cidade de Pearsall, Texas, com a ajuda de uma organizaçã­o religiosa americana

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