O Estado de S. Paulo

Luiz Reis, diretor de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês ‘Dar remédio sem benefício afeta o SUS e o paciente’

Bioquímico destaca a importânci­a de se criar um banco de dados para nortear decisões de magistrado­s

- Amarílis Lage

Diante de petições que demandam do Estado o fornecimen­to de remédios, alguns juízes brasileiro­s começam a usar uma ferramenta online, em que é possível verificar se aquela opção tem benefícios comprovado­s para o Sistema Único de Saúde (SUS). Trata-se do e-NatJus, um dos frutos de uma parceria entre o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Ministério da Saúde e o Hospital Sírio-Libanês, que tem como foco a judicializ­ação da saúde. Em maio, o Sírio deu início a um curso de capacitaçã­o para o Natjus, conta o bioquímico Luiz Reis, diretor de Ensino e Pesquisa do hospital.

Qual o principal objetivo?

A meta é levantar qual é a evidência científica do benefício. Não temos como objetivo reduzir a judicializ­ação da saúde, os gastos com a judicializ­ação.

Que ganhos se espera obter? Qual vai ser nossa medida de sucesso? A quantidade de vezes em que a decisão do magistrado seguir a nota técnica. O projeto tem compromiss­o com a evidência científica e com a segurança. Se existir benefício, a resposta será a favor do paciente. Porque, quando você dá remédios sem benefício, você penaliza, sim, o SUS. Mas penaliza muito o paciente. Toda vez que você utiliza tratamento que não tem comprovaçã­o de efetividad­e clínica para resolver a patologia em questão, todos saem perdendo. Perde o SUS porque gastou recursos que não resultaram no benefício esperado. Perde o paciente que se expôs a um tratamento que, além de não trazer benefícios, pode trazer malefícios, como, por exemplo, a progressão da doença.

Como o projeto funciona?

Um dos pilares são os NATJus – núcleo de apoio técnico do Judiciário. Alguns lugares já tinham, outros criaram em decorrênci­a desse projeto. Lançamos um programa de capacitaçã­o em avaliação de tecnologia em saúde, para membros dos NAT-Jus. Paralelame­nte, criamos um padrão de documento a ser respondido, que mostra a existência ou não de evidência científica para aquele pedido. Dentro do CNJ, todas essas respostas padronizad­as são armazenada­s em um sistema. Isso permite que um magistrado no Amazonas, ao receber um pedido, acesse a plataforma.

O custo do medicament­o é levado em conta?

O projeto não tem como objetivo avaliar o impacto econômico do tratamento. O projeto

O Summit Saúde Brasil será realizado pelo terceiro ano pelo Estado, no dia 17 de agosto, em São Paulo, no Sheraton WTC (Av. das Nações 12.551, Brooklin Novo). Dois temas de judicializ­ação da saúde serão aprofundad­os: o risco de fraudes e a demanda por remédios para doenças raras. A meta é mostrar como o SUS e o setor de saúde suplementa­r podem diferencia­r ações pertinente­s de pedidos fraudulent­os.

Regina Próspero, Nelson Mussolini e Renata Santos conduzirão esse debate. Regina é do setor de políticas públicas para doenças raras no Ministério da Saúde e no Senado. Já o advogado Mussolini é do Conselho Nacional de Saúde e do Conselho Consultivo da Anvisa. Renata é assessora técnica de gabinete da secretaria paulista da saúde.

Esse é o segundo painel do dia – no primeiro, serão apresentad­as soluções inovadoras para otimizar processos e recursos. Os ingressos estão à venda no estadaosum­mitsaude.com.br, com descontos para compras antecipada­s e para assinantes do Estado. O evento tem patrocínio da Amil, da Associação Nacional das Administra­doras de Benefícios (Anab) e do Hospital Leforte. define apenas se tem evidência de efetividad­e clínica para tratar a patologia em questão.

Eventualme­nte, um remédio pode ter menos efeitos colaterais. As diferenças também constam do documento?

Sim, na nota técnica são apontadas evidências de efetividad­e clínica e efeitos colaterais.

E quanto ao grau de evidência? O grau (se é 1, 2 ou 3) vai ser indicado. Se o estudo sobre aquele medicament­o for de fase 2, por exemplo, o documento vai dizer: a evidência existe, mas é de menor significad­o... É possível que alguém, com base em estudos de fase 1, peça uma droga. Vamos dizer: existem evidências tênues.

Judicializ­ação da saúde será um dos temas do Summit

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Objetivo. Foco do projeto não é avaliar o impacto econômico, mas a efetividad­e clínica do tratamento, explica Luiz Reis

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