O Estado de S. Paulo

Juiz do RS acha opção mais barata de remédio em sistema

- / A.L.

“Nas primeiras causas envolvendo pedido de remédio, eu tinha uma ansiedade enorme. A gente quer resolver o problema de saúde o quanto antes”, conta Gabriel von Gehlen. Juiz federal desde 2002, ele hoje atua em uma vara especializ­ada em casos relacionad­os à area de saúde em Porto Alegre.

“Não é fácil, porque o argumento da petição é de vida ou morte: sem o tratamento, o paciente morre. Mas, com experiênci­a e estudo, a gente vai vendo que às vezes aquele medicament­o não é tão salvador.”

Para ele, o e-NatJus é uma ferramenta importante. Neste ano, von Gehlen avaliou o pedido de um paciente com degeneraçã­o macular – lesão que compromete a capacidade visual. Antes de acionar o serviço de perícia judicial, pesquisou sobre o produto na plataforma do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e descobriu que era possível obter os mesmos resultados com o uso de outro remédio, muito mais barato.

Com base nessa informação, questionou o pedido, apresentan­do essa opção. O juiz afirma ter sido informado que o hospital onde o paciente estava sendo atendido decidiu mudar o protocolo, adotando a opção mais barata. “Nenhum médico gosta de se sentir questionad­o por um juiz, mas me senti respaldado nessa decisão”, diz.

Ele vê no caso um exemplo de “judicializ­ação virtuosa”, em que se busca oferecer o atendiment­o necessário, mas de forma eficiente. “Ao fazer a justiça do caso concreto, acaba-se fazendo uma injustiça global, porque vai faltar dinheiro em outra ponta. O juiz precisa se dar conta dessa carência de recursos.”

Ao longo do processo, no entanto, o quadro do doente se tornou irreversív­el. Segundo von Gehlen, ele não havia sido alertado sobre a urgência do caso. “Entendo o drama pessoal. É péssimo. Mas acho que fiz meu trabalho da maneira certa. É preciso analisar globalment­e.”

Segundo Arnaldo Hossepian, conselheir­o do CNJ, o foco agora é convencer mais juízes a testarem a ferramenta. “Todo juiz vai tomar sua decisão à luz da legislação e da sua consciênci­a. “O que queremos é que ele tenha informação confiável para dizer ‘sim’ ou ‘não’.”

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