O Estado de S. Paulo

Depois do Real, Rodrygo tem mais dois sonhos

Após realizar a primeira meta de sua carreira – chegar à Europa –, garoto quer seleção e ser o melhor do mundo

- João Prata

Rodrygo tem 17 anos, cursa o último semestre do ensino médio à noite e precisa da carona do pai para ir aos treinos do Santos. A voz ainda desafina às vezes entre uma frase e outra. Mas o futebol já é de gente grande. E isso por si só o obriga a encarar a vida de outra maneira. Os seus sonhos já estão bem definidos. A estrada que aparece pela frente tem o Santos no Brasileiro, na Libertador­es e na Copa do Brasil, a seleção brasileira sub-20, a apresentaç­ão ao Real Madrid, a Olimpíada de 2020 e, se tudo der certo, a Copa do Mundo de 2022. “Já consegui uma das metas da minha carreira, que é ser contratado por um grande clube da Europa. Agora é chegar à seleção principal e um dia ser eleito o melhor do mundo”, diz.

Conseguir estabilida­de financeira antes da maioridade tem seu preço. No caso de Rodrygo foram ¤ 50 milhões (R$ 216 milhões) pagos pelo Real Madrid por sua contrataçã­o – ele se apresenta em junho de 2019, cinco meses após completar 18 anos. O atacante não demonstra preocupaçã­o com todo o dinheiro envolvido no acerto. “Sou um cara tranquilo. Não tem necessidad­e de fazer um trabalho especial. Não deixo subir para a cabeça essas coisas”.

O foco e a resignação são de quem já sabe o que quer da carreira. “No dia em que o Brasil foi eliminado (da Copa do Mundo), conversei com meu pai e falei: ‘agora é treinar bastante. Em 2022 a gente tem de estar lá (no Catar)’”, disse.

As respostas do garoto durante toda a entrevista, em sua maioria, foram curtas e diretas. Sentado na cadeira, mexia e remexia no cadarço do tênis, tirava e colocava no pé o Nike novinho – a multinacio­nal esportiva patrocina o jogador desde os 11 anos. Ele também comentou a expectativ­a de defender o Real. “A gente fica imaginando como vai ser lá, mas tenho mais um ano de Santos. Tenho de estar 100% focado aqui. Espero as melhores coisas possíveis para mim no Real”, diz.

Rodrygo ainda não viajou para a Espanha. O contato direto com os dirigentes madrilenho­s foi feito apenas pelo empresário Nick Arcuri. O jogador disse que troca de vez em quando mensagens com membros da comissão do clube, que tinha Zidane e hoje pertence a Lopetegui. “Falam para pegar firme nos treinos para quando chegar lá ter um início bom.”

No Real, Rodrygo não terá mais a companhia daquele que considera o melhor do mundo: Cristiano Ronaldo. “Não dá para julgar se o que fez foi certo ou errado”, disse, referindo-se à transferên­cia para a Juventus.

Neymar. O pai, Eric Goes, tem 33 anos e pendurou as chuteiras há alguns meses para poder se dedicar à carreira do filho. Zagueiro, rodou por diversos clubes como Criciúma, Ceará, Guarani e Linense. Parou no Cuiabá. Hoje, todos moram juntos: pai, mãe e a irmã de cinco meses. Lembra um pouco a história de Neymar, mas é diferente.

O craque do PSG é uma referência de Rodrygo. E falar sobre seu ídolo foi o único momento da conversa em que o garoto se alongou. “Para um cara que estava três meses parado, acho que ele até fez bastante na Copa. Só não vê quem não quer. Querem fazer polêmica, dizer que ele não jogou. Acho que falaram besteira. O rendimento dele foi bom. Aqui no Brasil vocês valorizam muito os gringos. Muita gente estava se jogando, simulando, e ninguém falava nada. Mas quando é o Neymar querem criar toda essa polêmica”.

Rodrygo não gosta de ser comparado a Robinho ou Neymar. “É a pergunta que mais tenho de responder desde que me tornei profission­al (em julho de 2017). Não quero ser o novo Neymar ou mesmo o novo Robinho. Sou o Rodrygo.”

Há uma semelhança no primeiro ano da carreira dos três no Santos. Em 2002, Robinho marcou 10 gols em 30 jogos, média de 0,33. Neymar, em 2009, fez 14 gols em 49 partidas, média de 0,28. E Rodrygo balançou as redes nove vezes em 30 duelos, média de 0,3.

Fora de campo, a primeira impressão é de que eles são diferentes. Robinho era mais extroverti­do; Neymar sempre foi marrento, e Rodrygo parece ser mais centrado, cuidadoso com o que fala e contido.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Ambicioso. Rodrygo agora quer seleção brasileira principal e ser o melhor do mundo

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