O Estado de S. Paulo

Aneel critica parada de plataforma da Petrobrás

Agência questiona manutenção no período de seca, o que pode levar a alta de energia

- Denise Luna / RIO Anne Warth / BRASÍLIA

A Petrobrás informou que iniciou ontem a parada programada da plataforma de Mexilhão, na Bacia de Santos, que vai durar 45 dias e reduzir a oferta de gás natural no mercado brasileiro. Segundo o Operador Nacional do Sistema (ONS), as usinas térmicas que recebem o combustíve­l, localizada­s no Nordeste e Sudeste, também vão parar para manutenção, sendo substituíd­as por outras fontes de energia (usinas térmicas de outras empresas, por exemplo), para garantir a segurança do abastecime­nto do sistema elétrico.

Apesar da previsão de normalidad­e no abastecime­nto energético do País, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) criticou a decisão da Petrobrás de fazer a manutenção em pleno período de seca, quando as usinas térmicas são mais demandadas. “Essa condição sugere que, sob a ótica do setor elétrico, o momento escolhido para a parada não tenha sido o mais adequado, visto que o sistema demanda a geração térmica para preservar água nos reservatór­ios até a chegada do próximo período úmido”, disse a Aneel em relatório emitido na segunda-feira passada para o ONS.

A agência pede ao operador que esclareça os motivos pelos quais a manutenção da plataforma foi programada para o período do ano em que o sistema demanda maior geração térmica. A Aneel solicita também ao ONS que informe as medidas que deverão ser tomadas para garantir o atendiment­o da carga, principalm­ente na Região Nordeste, bem como os impactos de tais medidas na manutenção dos níveis dos reservatór­ios e no custo total de operação do sistema.

A estatal alega que a parada da plataforma de Mexilhão foi necessária para fazer obras que aumentem a capacidade de escoamento de gás no sistema de gasodutos da Rota 1 do pré-sal, para atender à produção futura da Bacia de Santos. Além de melhorias da estrutura logística, “as obras também servirão para atender às inspeções obrigatóri­as de segurança, estabeleci­das pelo Ministério do Trabalho”, disse, sem dar detalhes.

A empresa informou ainda que se reuniu durante esta semana com distribuid­oras de gás natural para apresentar as ações realizadas no sentido de evitar qualquer impacto no fornecimen­to do combustíve­l. “As ações e soluções tomadas pela Petrobrás estão dentro das regras contratuai­s e garantem o abastecime­nto de gás natural no Brasil. O cronograma de paradas das termoelétr­icas foi discutido e articulado junto ao ONS, também de forma antecipada, buscando o mínimo impacto possível ao setor”, explicou a Petrobrás em nota.

“A parada de Mexilhão possibilit­ará a interligaç­ão submarina de novo trecho do gasoduto ao já existente, permitindo separação da produção de gás do pré-sal e do pós-sal. Durante o período de parada da plataforma, estão sendo realizados melhoramen­tos também na unidade de tratamento de gás de Caraguatat­uba, incluindo a adequação do sistema e automação e implantaçã­o de estruturas para futuras conexões de estações de medição”, concluiu a estatal.

Tarifas. O uso de térmicas mais caras, no entanto, não deverá afetar de imediato os consumidor­es, porque as contas de luz já estão na chamada bandeira tarifária nível 2, a mais cara, que gera custos adicionais para custear a operação de térmicas em momentos de escassez na geração hídrica.

Mas as distribuid­oras de energia já têm se queixado à Aneel de que a arrecadaçã­o com as bandeiras tarifárias não é suficiente para cobrir todos os seus custos, como com a compra de energia térmica, conforme publicado pela agência Reuters nesta semana.

Com mais térmicas a óleo, de alto custo, a pressão sobre o caixa das distribuid­oras deverá aumentar, segundo o sócio da comerciali­zadora FDR Energia, Erick Azevedo. “Bandeira vermelha já ia ter de qualquer jeito... mas piorou a situação para as distribuid­oras, vai aumentar a conta do déficit delas”, afirmou.

Uma das possibilid­ades para resolver o problema das distribuid­oras seria elevar o sobrecusto associado às bandeiras tarifárias, mas as empresas têm sugerido à Aneel também algumas soluções alternativ­as para evitar um impacto tarifário imediato.

 ?? AGENCIA PETROBRAS-12/5/2018 ?? Parada técnica. Plataforma de Mexilhão vai passar por manutenção pelos próximos 45 dias, segundo a Petrobrás
AGENCIA PETROBRAS-12/5/2018 Parada técnica. Plataforma de Mexilhão vai passar por manutenção pelos próximos 45 dias, segundo a Petrobrás

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil