O Estado de S. Paulo

Lucro da Vale sobe 5 vezes no trimestre, mas registra efeito negativo do câmbio

Balanço. Ganhos da mineradora somaram R$ 306 milhões entre abril e junho – alta de 410% sobre o mesmo período de 2017, mas queda acentuada ante o trimestre anterior; desvaloriz­ação do real frente ao dólar gerou efeito contábil que reduziu o indicador em R

- Renata Batista / RIO Fernanda Guimarães / SÃO PAULO

A Vale anunciou ontem que fechou o segundo trimestre com um lucro líquido de R$ 306 milhões, um salto de 410% frente ao mesmo período do ano passado. Uma alta puxada por recorde de vendas e prêmios pagos pela elevada qualidade do minério de ferro negociado pela companhia. Já frente ao primeiro trimestre, a companhia viu seu desempenho encolher 95%, influencia­do pelo impacto do câmbio e pelo aumento de R$ 1,5 bilhão na provisão (reserva para perdas futuras) para o acidente da Samarco.

Com a desvaloriz­ação do real de 16% frente dólar ao longo de abril a junho, a companhia amargou um efeito contábil negativo que reduziu o lucro líquido do período em R$ 7,3 bilhões. O efeito do câmbio teve impacto direto no custo de carregamen­to da dívida da Vale, que é 90% atrelada à moeda americana. O estrago só não foi maior porque a mineradora conseguiu cortar pela metade seu endividame­nto desde junho do ano passado. O movimento levou a dívida para o menor patamar desde 2011. Em 12 meses, o corte já totaliza quase US$ 11 bilhões, o que a aproxima da meta de US$ 10 bilhões fixada pelo atual comando da mineradora.

“Mostramos um progresso significat­ivo em previsibil­idade, flexibilid­ade, gerenciame­nto de custos, disciplina na alocação de capital e diversific­ação por meio de nossos próprios ativos”, disse o diretor-presidente da Vale, Fabio Schvartsma­n, em nota.

O diretor executivo de finanças da Vale, Luciano Siani Pires, destacou o impacto da redução da dívida na avaliação de crédito e também nos gastos com juros. “Nossas despesas com juros brutos foram reduzidas em 30% (na comparação com o primeiro trimestre de 2017).”

Com o real mais desvaloriz­ado, a empresa decidiu diminuir em cerca de US$ 200 milhões sua projeção de investimen­to em moeda estrangeir­a. O resultado, porém, não deve alterar significat­ivamente os projetos considerad­os importante­s para o desempenho da empresa, como a retomada da unidade de pelotizaçã­o de São Luís. A maior parte do investimen­to necessário para isso acontece no Brasil e tem o custo medido em real.

Segundo o diretor executivo de minerais ferrosos e carvão, Peter Poppinga, a Vale está progressiv­amente implementa­ndo uma estratégia de diferencia­ção. “O prêmio de qualidade no preço realizado da Vale atingiu um recorde de US$ 7,1 milhões de toneladas no segundo trimestre de 2018”, disse. O resultado de sua área representa hoje mais de 90% da atividade da empresa.

Samarco. Outro fator que afetou o resultado entre abril e junho de 2018 foi o aumento em R$ 1,5 bilhão na provisão (reserva para eventuais despesas futuras) do desastre ambiental da Samarco com a vazamento da barragem de Mariana (MG), em 2015. Na semana passada, a Vale informou que iria ampliar a provisão. Originalme­nte, a empresa considerav­a uma cifra de R$ 3,7 bilhões, que se baseava em estimativa­s preliminar­es de programas implementa­dos pela Fundação Renova, responsáve­l pela gestão dos projetos.

Apesar dos números mais fracos frente ao primeiro trimestre, o resultado reportado ontem mostra que a empresa continua conseguind­o cumprir as promessas que fez a analistas e investidor­es. Além de recuperar o selo de boa pagadora pela agência de classifica­ção de risco Moody’s, a Vale anunciou que irá pagar aos acionistas R$ 7,7 bilhões em dividendos e juros sobre capital próprio.

“Já podemos perceber os benefícios de um menor endividame­nto em nossa avaliação de crédito” Luciano Siani

DIRETOR-EXECUTIVO DE FINANÇAS E

RELAÇÕES COM INVESTIDOR­ES DA VALE

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