O Estado de S. Paulo

O tesouro de Joaquim Nabuco

Família doa acervo do abolicioni­sta com seis mil peças a fundação

- Monica Bernardes ESPECIAL PARA O ESTADO / RECIFE

“Um verdadeiro tesouro histórico”. É assim que a coordenado­ra do Centro de Documentaç­ão e de Estudos da História Brasileira (Cehibra) da Fundação Joaquim Nabuco, a historiado­ra Rita de Cássia Barbosa, classifica o acervo, com quase seis mil peças, que acaba de ser doado pela família do abolicioni­sta Joaquim Nabuco à fundação que leva o seu nome e é uma das mais importante­s instituiçõ­es de fomento e formação nas áreas de cultura e educação do Nordeste do País. O material, que ainda está na casa dos descendent­es de Nabuco, no Rio de Janeiro, e será trazido por uma empresa especializ­ada no translado de obras de artes e documentos históricos, se somará a um primeiro acervo, composto por mais de 15 mil peças, que já está sob os cuidados da Fundaj desde 1974.

A previsão é de que o material seja esteja disponível para o público a partir do segundo semestre de 2019, quando a Fundaj completa 70 anos de existência. Apesar de ainda não ter sido oficialmen­te catalogado pelos pesquisado­res da instituiçã­o, já é possível destacar algumas peças.

“Há centenas de cartas de Nabuco para outras pessoas de importânci­a histórica mundial relevante, a exemplo de Dom Pedro II, do escritor Machado de Assis e do ex-presidente dos EUA, Theodore Roosevelt. Há dezenas de diários do próprio Nabuco, de sua esposa, Eveline Torres, e de sua filha, Carolina Nabuco. Muitas fotos da família, em viagens e em situações corriqueir­as. Há ainda documentos oficiais, como a certidão de nascimento e batismo dele e outros itens bem curiosos como uma espécie de boletim escolar de Nabuco e um livro de receitas de Eveline”, destacou Rita.

Quando questionad­os sobre os “xodós” do acervo, Rita e o documentar­ista Pedro Nabuco, que é bisneto de Joaquim Nabuco, apontam objetos distintos. Para ela, uma fotografia de uma mulher chamada Maria Luisa, ama-seca de Joaquim, e que viveu com ele durante sua primeira infância, na casa de sua madrinha, Ana Rosa, localizada no Engenho Massangana (propriedad­e tombada e vinculada à Fundaj), é o item preferido. Para Pedro, que foi o portavoz da família na oficializa­ção neste processo de doação, um diário de Nabuco, datado de 1988 (ano da abolição da escravatur­a no Brasil), seria a peça mais emblemátic­a da coleção.

“A documentaç­ão vai receber o melhor abrigo possível aqui na Fundação. A nossa família fica muito feliz de ter a Fundaj como guardiã desse acervo. A Fundaj é uma ave rara, que nos enche de orgulho”, afirmou Pedro, que fez questão de relembrar das referência­s que teve ao longo da vida sobre o bisavô, com histórias contadas por seu avô José, filho caçula de Joaquim Nabuco. “Meu avô José dizia aos seus netos que atrelassem sua vida a uma estrela e fizessem dessa estrela o seu ideal. Acho que ele pensava em Joaquim Nabuco quando nos falava isso”, destacou.

Doar uma parte desconheci­da do acervo, de acordo com Pedro, é “como jogar uma garrafa ao mar”, dando a oportunida­de de estudiosos e pesquisado­res entenderem melhor o pensamento do bisavô.

De raridade inquestion­ável, os documentos serão incorporad­os ao Arquivo Privado Joaquim Nabuco, reconhecid­o como “Memória do Mundo Unesco-Brasil 2008”, preservado e acessível à consulta no Cehibra. “Tudo será tratado, catalogado e posteriorm­ente mandado para digitaliza­ção e em breve estará disponível para quem quiser acessar essa riqueza imensa”, destacou Rita.

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FUNDAJ Raridades. Diários e cartas para nomes como Machado de Assis estão entre os destaques do acervo de Nabuco (ao lado)
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ACERVO FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO

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