O Estado de S. Paulo

Raridade do século 19 sobre a arte da ‘cosinha’ ganha versão fac-símile

- Ana Paula Boni

Era 1876 quando o livro Arte de

Cosinha foi lançado em Portugal pelo cozinheiro João da Matta, com 10 jantares pormenoriz­ados (cada um com 10 preparos ou mais), além de pratos dedicados à família real portuguesa e à família imperial brasileira. Obra rara, o original da Biblioteca Fran Paxeco, que fica em Belém (PA), acabou dando vida a uma versão fac-similada lançada no mês passado.

Até o formato do volume, do tamanho da palma de uma mão, segue o padrão do original, que reúne 300 páginas com receitas, ensinament­os técnicos e um capítulo sobre a arte de servir. Arte de Cosinha é registro não só da escrita do século 19 como também de ingredient­es e modos de preparo em voga.

Então chef do Grand Hotel du Matta, em Lisboa, o autor apresenta o livro: “O que não tenho duvida em affiançar é que são positivame­nte praticas todas as minhas receitas, porque milhares de vezes me teem servido (sic)”. A primeira delas, do primeiro jantar descrito, é a “sôpa printanièr­e”, que João da Matta começa ensinando pelo modo de cortar as hortaliças: “Nabos e cenouras, cortados a vazadores de seis linhas de comprido; (...) duas cebolas cortadas em dados”.

Os ingredient­es e suas quantidade­s devem ser pescados do texto corrido: “Uma mão cheia de ervilhas finas, uma mão cheia de pontas de aspargos”.

E seguem receitas de “costelleta­s de vitella em papelotes”, “assado de codorniz com môlho à Perigueux”, “feijão verde guisado”, “pastellinh­os d’ostras” e até um “pirão escaldado de farinha de páu à brasileira (para carne)”, sendo farinha de pau a farinha de mandioca.

A receita “offerecida respeitosa­mente à família imperial do Brazil” é a bomba de neve: uma sobremesa gelada que leva frutas como “abacachy, jaca, pecegos e bom melão”.

Ao fim do livro, João da Matta orienta “instrucçõe­s para um creado saber pôr a mesa e servir um jantar à russiana, que é a moda adoptada hoje pelas pessoas de distincção em todo o mundo civilisado”. Isso inclui “o creado apresentar-se de barba feita e mãos lavadissim­as”, além de usar toalha adamascada e saber escolher vasos para flores e velas, saber onde vão os talheres e que vinhos devem ser servidos (“portugueze­s ou hespanhoes”).

Parceria do governo do Pará com o Grêmio Literário e Recreativo Português de Belém, onde fica a Biblioteca Fran Paxeco, o livro pode ser encomendad­o no Consulado Geral de Portugal em São Paulo (R$ 50, pelo tel. 3084-1800).

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REPRODUÇÃO
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Original. Folha de rosto de Arte de Cosinha e, ao lado, detalhes de páginas internas

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