O Estado de S. Paulo

Pesquisas terão de incluir nome de Lula

Especialis­tas apontam que TSE não permitirá divulgação de levantamen­tos com Haddad enquanto o ex-presidente ocupar o posto de candidato

- Daniel Weterman Daniel Bramatti

O mundo político já dá como certa a substituiç­ão de Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato, por Fernando Haddad como candidato do PT à Presidênci­a. Mas, enquanto este “plano B” não for oficializa­do, é possível que só grandes bancos e empresas tenham informaçõe­s precisas sobre quem lidera a corrida eleitoral.

Conforme revelou anteontem o Estadão/Broadcast, especialis­tas apostam que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não permitirá a divulgação de pesquisas eleitorais em que Haddad figure como candidato do PT se o ex-presidente, para efeitos legais, estiver ocupando essa vaga. Ou seja, as pesquisas devidament­e registrada­s no TSE e divulgadas pelos meios de comunicaçã­o só poderiam testar um único cenário, o oficial, com Lula candidato – embora este seja o mais improvável.

Mas essa mesma restrição não valerá para os bancos que encomendam pesquisas como forma de se antecipar a movimentos do mercado financeiro provocados pela ascensão ou queda de determinad­o concorrent­e. Levantamen­tos para consumo interno, sem divulgação na mídia, poderão testar cenários com e sem Lula e Haddad na cabeça da chapa petista.

É inédita essa situação em que o público pode ser privado de informaçõe­s adequadas sobre as chances de cada candidato, conforme sondagens eleitorais.

“Temos dúvidas sobre a possibilid­ade de medir o apoio a alguém que não é formalment­e candidato”, disse ao Estado Marcia Cavallari, diretora executiva do Ibope Inteligênc­ia. “A legislação não prevê essa possibilid­ade.”

Mauro Paulino, diretor do Datafolha, também manifestou incerteza sobre o quadro. “O TSE deveria ter uma definição clara e flexível, o mais rápido possível, pelo bem da informação”, disse.

A resolução do TSE sobre pesquisas diz que “a partir das publicaçõe­s dos editais de registro de candidatos, os nomes de todos os candidatos cujo registro tenha sido requerido deverão constar da lista apresentad­a aos entrevista­dos durante a realização das pesquisas”. A lei não proíbe a inclusão de nomes que não são candidatos, mas obriga a presença de todos os registrado­s no TSE.

Impugnação. O Ministério Público, candidatos, partidos e coligações podem entrar com processo de impugnação da divulgação das pesquisas após o registro dos levantamen­tos. No registro, é possível ter acesso aos questionár­ios das entrevista­s e antecipar quais nomes estarão nos cenários considerad­os. “Não tenho a menor dúvida de que, se colocarem uma pergunta com o nome de Lula e outra com o de Haddad, haverá impugnação da pesquisa”, comentou Daniel Falcão, professor de Direito Constituci­onal da Universida­de de São Paulo (USP) e do Instituto de Direito Público (IDP).

Em resposta ao Estadão/Broadcast, o TSE informou que só pode se manifestar sobre situações não esclarecid­as nas normas, como a inclusão de nomes que não são oficialmen­te candidatos em pesquisas, se a situação for questionad­a no âmbito judicial.

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GABRIELA BILO / ESTADÃO Cenário. Marcia Cavallari, diretora do Ibope: ‘Temos dúvidas de medir o apoio a alguém que não é formalment­e candidato’

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