O Estado de S. Paulo

Só o candidato do PSL teve estratégia durante o debate

- Marcelo de Moraes

Com os candidatos disputando migalhas de tempo para falar, é quase um devaneio achar ser possível aprofundar discussões nesse tipo de debate a ponto de mudar o voto de algum eleitor. Mesmo veteranos em eleições presidenci­ais como Marina Silva, Ciro Gomes e Geraldo Alckmin não conseguira­m superar a superficia­lidade nos temas tratados.

Apenas um candidato mostrou ter uma tática definida para usar no debate da Band. Jair Bolsonaro aproveitou a ocasião para exibir um figurino diferente. Sem gritar (muito), fugindo de provocaçõe­s e fazendo observaçõe­s ponderadas, Bolsonaro foi para o programa claramente tentando transmitir o recado que não é um desequilib­rado, sem condições de governar o País.

O candidato do PSL foi até mais longe, fazendo surpreende­nte tabelinhas com o senador Alvaro Dias, elogiando sua preocupaçã­o em abrir “a caixa preta” do BNDES, e com Cabo Daciolo, do Patriota. Bolsonaro parece, inclusive, já estar mirando numa potencial aliança para o segundo turno. Chegou ainda a trocar ideias de forma civilizada e bem humorada com Ciro Gomes, outro candidato famoso pelo pavio curto.

Em vantagem nas pesquisas nos cenários em que Lula não é incluído, Bolsonaro saiu do debate sem desgastar esse patrimônio. Uma recompensa para o único candidato que parece ter entendido que tipo de vantagem poderia tirar desse modelo de discussão.

Não é pouca coisa, consideran­do o elevado número de eleitores indecisos que não sabem sequer se votarão em alguém. Mas Bolsonaro sabe que ainda precisa melhorar muito sua imagem. Ele é constantem­ente acusado de ser racista, machista e homofóbico, como Guilherme Boulos, do PSOL, lhe jogou na cara logo na abertura do debate.

Para os outros candidatos, sobrou a lição de que precisam chegar aos debates com algum tipo de plano. Falar por falar se torna mero ruído para quem está do outro lado da tela acompanhan­do o programa. Sempre é bom lembrar que a corrida presidenci­al é curta. Faltam menos de dois meses para a eleição. Chances desperdiça­das não reaparecer­ão.

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