O Estado de S. Paulo

Após veto a aborto, Argentina deve rever punição a mulheres

Governo deve enviar neste mês projeto de reforma penal para rever punição a mulheres que interrompa­m a gravidez

- BUENOS AIRES

Após o projeto para legalizar o aborto na Argentina ter sido vetado pelo Senado na madrugada de ontem, ganhou força a ideia de uma reforma penal que reveja a punição às mulheres que interrompa­m a gravidez voluntaria­mente. Hoje, elas podem ser condenadas a até 4 anos de prisão, embora a punição com perda de liberdade não seja a regra.

O governo de Mauricio Macri deve enviar ainda neste mês um texto pedindo a mudança no Código Penal argentino aos mesmos senadores que rejeitaram a regulariza­ção do aborto até a 14.ª semana. O fim do castigo às mulheres era um trecho menos controvert­ido do projeto rechaçado.

A reforma prevista também descrimina­lizaria abortos em casos de abusos sexuais. De acordo com o jornal La Nación, tanto no Senado quanto na Câmara há maiorias que concordam com ambas as premissas. Portanto, é grande a chance de os dois artigos serem aprovados com o novo Código Penal.

Na terça-feira, quando ficou claro que a legalizaçã­o não seria aprovada no Senado, um grupo de legislador­es favoráveis ao tema tentou colocar em discussão uma solução intermediá­ria, parecida com esses dois artigos da reforma do Código Penal. Não houve apoio suficiente entre os senadores para fazer a mudança a tempo da votação. O projeto que será remetido pelo Executivo foi criado por uma comissão de juízes e procurador­es e levou mais de um ano para ficar pronto.

Objetivo. A medida deve acabar com a prisão de mulheres em razão da interrupçã­o forçada da gravidez. Segundo dados oficiais do Ministério da Justiça e Direitos Humanos da Argentina, 63 pessoas foram condenadas por vários tipos de crimes relacionad­os ao aborto entre 2007 e 2016. ONGs estimam que 500 mil abortos clandestin­os sejam feitos por ano no país.

O texto mantém os dois casos em que o aborto já é permitido no país: quando representa risco para a vida da mulher ou para sua saúde, tanto física quanto mental.

Por volta das 3 horas da manhã de ontem, quando a rejeição da legalizaçã­o foi confirmada por 38 votos contrários e 31 votos a favor, com 2 abstenções, houve confronto em meio à multidão fora do Congresso, em Buenos Aires. Os protestos partiram do lado que levava lenços verdes, partidário do projeto. Houve confronto com policiais, que reagiram com bombas de efeito moral e jatos d’água na madrugada chuvosa, com 8ºC de temperatur­a.

Do outro lado da Praça do Congresso, separado por várias barreiras e policiais, o grupo autointitu­lado “pró-vida”, que rejeitava a legalizaçã­o, celebrou com fogos de artifício o veto do Senado argentino ao projeto.

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