Litoral sul de SP tem recorde de mortes de pinguins.
Pelo menos 282 animais, vindos da Patagônia, foram achados neste inverno; cientistas têm feito inspeções em praias
Pelo menos 282 pinguins-demagalhães procedentes da região da Patagônia, no sul da Argentina e do Chile, foram encontrados mortos neste inverno em praias do litoral sul paulista. Os achados, que incluíram outros cinco espécimes vivos, foram principalmente na porção norte de Ilha Comprida, mas também nasPraias de Iguape e Ilha do Cardoso, em Cananeia.
No inverno do ano passado, foram achados 14 pinguins – dez deles mortos. Em 2016, foram 42 mortos e 1 vivo, conforme o Instituto de Pesquisas Cananeia (IPeC). Esses resgates mobilizam cientistas do órgão, que faz pesquisa científica e monitora praias da região. Só ontem, foram recolhidos mais de 70 animais.
Segundo a coordenadora-geral do monitoramento do IPeC, Daniela Ferro de Godoy, anualmente os pinguins-de-magalhães deixam suas colônias, no extremo sul do continente, e chegam à costa brasileira, onde ficam no período mais frio, retornando após o inverno. “Nas últimas semanas, temos recebido ligações e mensagens de moradores e turistas preocupados com o número de pinguins mortos nas praias da nossa região.”
A quantidade de aves mortas é tão grande que as equipes passaram a fazer inspeções diárias nas praias. Segundo Daniela, algumas hipóteses estão sendo consideradas para explicar o quadro. “Pode estar associado ao fenômeno El Niño que, como o La Nina, faz com que os pinguins se desloquem por grandes distâncias em busca de águas mais quentes. Muitos ficam à deriva e chegam a nossa costa fracos e extenuados.” No inverno de 2017, diz ela, houve menos frentes frias, o que explicaria o total menor de resgates.
Também pode haver dispersão maior da espécie, que migra na tentativa de se fixar em novas áreas. “Consideramos como área de migração até a costa do Espírito Santo, mas este ano estamos vendo muitos animais jovens, com menos de 1 ano, em sua primeira migração”, diz Daniela. O número de encalhados pode indicar aumento de população da espécie. “Podem estar tentando achar novas áreas e a seleção natural faz o papel dela. Os filhotes têm de se virar. Os mais fracos não conseguem alimento, enfraquecem e morrem.”
Os pinguins se alimentam basicamente de peixes e a eventual escassez de cardumes pode levar à mortandade. “A maioria dos que examinamos não tinha alimento no estômago. Também não achamos lixo, plástico ou outro material que possa ter causado a morte, como geralmente é com as tartarugas.”
Amostras foram coletadas para exames, mas o resultado sai em até sete meses. Pinguins apanhados vivos são devolvidos ao mar após reabilitação.
Lobos-marinhos. Este ano foi registrado número expressivo de lobos-marinhos encalhados ou mortos nas praias, o que reforça a possibilidade de interferência de fenômenos climáticos. Até ontem, foram achados nove animais – três vivos.