Tragédia é resultado de sucessão de erros
Aexpansão do Primeiro Comando da Capital (PCC) para mercados estaduais produziu resistências dentro e fora dos presídios e promoveu novas alianças e rivalidades locais. Facções surgiram de Norte a Sul do País, compartilhando desde gírias até estratégias para competir por mais lucro no mercado do crime.
O crime se armou e houve disputas pela hegemonia nas vendas, promovendo cenas trágicas como as ocorridas durante as rebeliões prisionais do começo de 2017, além de chacinas e homicídios.
A articulação do crime a partir das prisões – com estatutos, regras, estratégias, salves, etc – virou um modelo nacional de liderança e negócio para outros grupos, tanto de aliados como de rivais do PCC. O crescimento dos homicídios brasileiros é um dos sintomas mais evidentes dessas mudanças.
Esse quadro, contudo, não surgiu do nada. A cena atual foi sendo formada como um dos efeitos colaterais da máquina de guerra criada para tentar controlar o crime, colocada para funcionar nas últimas décadas. A aposta feita pelos governos no policiamento ostensivo dos militares nos bairros pobres para realizar prisões em flagrante encheu as prisões de pequenos traficantes ou mesmo de usuários, ajudando a fortalecer a liderança das facções.
As guerras cotidianas e custosas produziram ainda violência generalizada entre jovens pobres – muitos mortos em ações policiais truculentas – e promoveram a revolta que o crime precisava para articular seu discurso antissistema: o “crime fortalece o crime” faz parte dos motes das facções.
Ao mesmo tempo, pouco se investiu na compreensão do funcionamento dessa indústria – “onde o dinheiro de seus integrantes é depositado?”, “onde é lavado?”, “quais as rotas principais?”. As respostas dependem da troca de informações entre as instituições de inteligência, mas a articulação não ocorreu como deveria. A tragédia dos homicídios é o resultado mais gritante desses erros.
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