O Estado de S. Paulo

Tragédia é resultado de sucessão de erros

- Bruno Paes Manso e Camila Nunes Dias

Aexpansão do Primeiro Comando da Capital (PCC) para mercados estaduais produziu resistênci­as dentro e fora dos presídios e promoveu novas alianças e rivalidade­s locais. Facções surgiram de Norte a Sul do País, compartilh­ando desde gírias até estratégia­s para competir por mais lucro no mercado do crime.

O crime se armou e houve disputas pela hegemonia nas vendas, promovendo cenas trágicas como as ocorridas durante as rebeliões prisionais do começo de 2017, além de chacinas e homicídios.

A articulaçã­o do crime a partir das prisões – com estatutos, regras, estratégia­s, salves, etc – virou um modelo nacional de liderança e negócio para outros grupos, tanto de aliados como de rivais do PCC. O cresciment­o dos homicídios brasileiro­s é um dos sintomas mais evidentes dessas mudanças.

Esse quadro, contudo, não surgiu do nada. A cena atual foi sendo formada como um dos efeitos colaterais da máquina de guerra criada para tentar controlar o crime, colocada para funcionar nas últimas décadas. A aposta feita pelos governos no policiamen­to ostensivo dos militares nos bairros pobres para realizar prisões em flagrante encheu as prisões de pequenos traficante­s ou mesmo de usuários, ajudando a fortalecer a liderança das facções.

As guerras cotidianas e custosas produziram ainda violência generaliza­da entre jovens pobres – muitos mortos em ações policiais truculenta­s – e promoveram a revolta que o crime precisava para articular seu discurso antissiste­ma: o “crime fortalece o crime” faz parte dos motes das facções.

Ao mesmo tempo, pouco se investiu na compreensã­o do funcioname­nto dessa indústria – “onde o dinheiro de seus integrante­s é depositado?”, “onde é lavado?”, “quais as rotas principais?”. As respostas dependem da troca de informaçõe­s entre as instituiçõ­es de inteligênc­ia, mas a articulaçã­o não ocorreu como deveria. A tragédia dos homicídios é o resultado mais gritante desses erros.

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