O Estado de S. Paulo

Letalidade policial aumenta 20% no ano; Rio tem maior nº de casos

Estado ainda está na contramão no número de agentes mortos, que avançou 19,5%, mas no País caiu 4,9%

- Roberta Pennafort / RIO

As mortes decorrente­s de ações policiais aumentaram 20,5% no País em 2017, atingindo um total de 5.144 vítimas – e no Rio o índice ficou 21,2% maior. Segundo o anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, houve 1.127 óbitos causados por intervençã­o da polícia no a no passado – uma média de três por dia –, ante 925 em 2016.

O levantamen­to confirmou uma estatístic­a já conhecida: o Rio tem também o número mais alto de policiais mortos. Em 2016, 87 foram vitimados (em serviço ou de folga); no ano seguinte, foram 104.

Isso significou uma elevação de 19,5%, quando no País, em média, o índice de agentes de segurança assassinad­os caiu 4,9% no período, quando 367 agentes da ativa perderam a vida. Em 2018, já foram mais de 60 policiais mortos, o que deve fazer com que o Estado mais uma vez detenha o recorde. Desde fevereiro deste ano, uma intervençã­o federal colocou a segurança pública do Rio sob comando das Forças Armadas.

A auxiliar de serviços gerais Rosilene Alves é mãe de Maria Eduarda, morta aos 13 anos no pátio de sua escola, na zona norte carioca, em março de 2017. A adolescent­e foi vítima de três tiros de fuzil disparados por policiais. Ela crê que será feita justiça. A garota foi vítima de disparos feitos por policiais contra suspeitos que estavam na rua. Um cabo da PM foi indiciado pelo crime.“Nada mudou na conduta dos policiais. Eles continuam atirando. Olham para o morador da comunidade e não veem criança, trabalhado­r. Agem como se todo mundo fosse traficante. Sou cristã e perdoei, mas queremos justiça.”

Críticas. Para a cientista social Silvia Ramos, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universida­de Candido Mendes, o Rio deve bater marca histórica de mortes em operações policiais neste ano. Ela espera reviravolt­a no projeto das Unidades de Polícia Pacificado­ra (UPPs), que reduziu os índices de violência, ainda que o governo esteja esvaziando o plano desde o ano passado. “Com a intervençã­o, a gente esperava que houvesse uma determinaç­ão de proteção da vida”, lamentou. “Os problemas de segurança do Rio não são de outro mundo, é preciso parar de afirmar que nada dá certo aqui. Não é fácil, mas é possível reverter.”

O coronel Robson Rodrigues, antropólog­o e ex-chefe do Estado-Maior da PM do Rio, não acredita que a atual política de segurança seja aprimorada no curto prazo. A estratégia, segundo ele, tem mais ênfase no enfrentame­nto a tiros do tráfico de drogas do que em ações pontuais e inteligent­es contra o crime organizado. “O que vemos é investimen­to em um erro, com baixas para todos os lados.”

Outros Estados. A quantidade de mortos pelas Polícias Militar e Civil no Estado de São Paulo chegou a 940 no ano passado, mas a taxa por 100 mil habitantes é de 2,1. Taxas elevadas foram constatada­s no Acre (4,6), no Pará (4,6) e no Amapá (6,6).

“No Rio, o padrão é de armas pesadas, como fuzis. Sabendo disso, o policial não vai pensar duas vezes antes de atirar.”

Samira Bueno

DIRETORA DO FÓRUM DE SEGURANÇA

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