O Estado de S. Paulo

TCU quer ação da PGR contra farra fiscal no Congresso

Para o Tribunal de Contas, os parlamenta­res deveriam ser punidos pelo descumprim­ento da Lei de Responsabi­lidade Fiscal

- Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

A Procurador­ia-Geral da República está sendo provocada a entrar na briga contra a “farra fiscal” promovida pelo Congresso, que tenta conceder benefícios a alguns setores e aumentar os gastos públicos, mesmo sem verba prevista no Orçamento. A avaliação é que os parlamenta­res ignoraram a Lei de Responsabi­lidade Fiscal (LRF) e poderiam ser responsabi­lizados individual­mente por ampliarem os descontos de programas de parcelamen­to tributário, conhecidos como Refis.

Em maio, o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Vital do Rêgo ordenou que fosse enviada à PGR uma cópia do alerta feito à equipe econômica pela implementa­ção de dois Refis que não tinham compensaçã­o no Orçamento. A medida foi articulada justamente para provocar a Procurador­ia a entrar no debate. A reportagem procurou a PGR desde o dia 31 de julho, mas não obteve retorno até a publicação.

Como mostrou o Estadão/Broadcast, no Distrito Federal, o Ministério Público entrou com ações contra deputados distritais que deram pareceres favoráveis a projetos que aumentavam o buraco no orçamento do Distrito Federal sem calcular o impacto financeiro. O promotor Rubin Lemos, da 3.ª Promotoria de Justiça de Defesa da Ordem Tributária, acusa os parlamenta­res de improbidad­e administra­tiva.

Poderes. Na área econômica, o desconfort­o é grande porque até agora a atuação do TCU se limita aos alertas feitos ao Poder Executivo sobre o risco de descumprim­ento da LRF, embora tenha sido o Congresso o responsáve­l por derrubar os vetos do presidente Michel Temer a dois projetos do Refis.

Fontes do governo avaliam que os alertas deveriam ser feitos também aos deputados e senadores, já que eles aprovam o benefício sem apontar de onde tirar o dinheiro para bancar a fatura – uma tarefa complicada em tempos de restrições cada vez maiores.

Já no TCU a avaliação é que a corte não tem competênci­a para fiscalizar o processo legislativ­o, mas que a PGR poderia ser mais atuante para resguardar as contas da União. Nas últimas semanas, avançaram projetos que podem desfalcar os cofres públicos em mais de R$ 100 bilhões nos próximos anos.

Um dos criadores da LRF, o economista José Roberto Afonso avalia que todos os poderes precisam trabalhar pela sustentabi­lidade das finanças. “O cumpriment­o das regras da LRF e demais leis deve ser permanente, consistent­e e firme. Todos os poderes devem ser cobrados, igualmente e sempre”, diz Afonso, que é pesquisado­r do Ibre/FGV e professor do IDP.

Ele ressaltou, no entanto, que os demais poderes precisam antes de tudo mostrar credibilid­ade, sem, por exemplo, maquiar o verdadeiro tamanho de suas folhas salariais. “Só assim poderão ter isenção e firmeza para avaliar e denunciar irregulari­dades cometidas pelos outros poderes”, afirma.

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WILSON DIAS/AGÊNCIA BRASIL Projetos. Assessoria de Maia informou que análises prévias devem ser retomadas

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