O Estado de S. Paulo

A volta do Liceu de Artes

Depois do incêndio de 2014, espaço reabre com mostras

- Pedro Rocha ESPECIAL PARA O ESTADO

Em 4 de fevereiro de 2014, um grande incêndio destruiu o prédio do Centro Cultural do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, instituiçã­o que completa 145 anos de atividade este ano. Quadros, esculturas, móveis antigos e réplicas em gesso de obras-primas como Davi e Pietá, de Michelange­lo, ficaram destruídas. Agora, mais de quatro anos depois, o espaço vai finalmente ser reaberto ao público.

“O Liceu está pagando uma dívida com a cidade de São Paulo e com a sua própria história, ao resgatar esse espaço”, acredita o presidente da instituiçã­o, Livio de Vivo. “Aquele incêndio foi traumático.” Segundo De Vivo, apesar de contar com o auxílio do seguro, o Liceu teve de arcar com recursos próprios em parte da construção do novo prédio e do restauro de obras queimadas. Das 28 réplicas em gesso, oito já foram restaurada­s e já estão em exibição no espaço. Mais de 10 obras ficaram irrecuperá­veis por causa do incêndio.

Com 1.200 m², o novo Centro Cultural conta com dois espaços expositivo­s e é decorado com a mesma estrutura metálica do prédio que pegou fogo. “Aqui era um edifício industrial e a estrutura metálica interna é alemã, da virada do século 20”, explica o arquiteto do projeto, Ricardo Julião. Apesar de ter perdido a sua capacidade estrutural no incêndio, as peças metálicas foram restaurada­s e hoje servem para ornamentaç­ão.

A entrada principal na Rua da Cantareira foi refeita, com um design mais moderno, mas o novo projeto manteve também um pórtico localizado na Rua João Teodoro. “Por conta da importânci­a histórica decidimos manter essas estruturas”, esclarece o arquiteto. Para contrapor, deixamos o espaço o mais limpo possível, para não interferir nas atividades e exposições.” Resgate. Para recuperar a história do Liceu de Artes e Ofícios, o espaço inferior do novo Centro Cultural foi reservado para exposições sobre a própria instituiçã­o. A curadora Denise Mattar ficou encarregad­a pela programaçã­o inaugural, que se divide entre o ontem, hoje e amanhã. Mattar já havia sido contatada pelo Liceu antes mesmo do incêndio para trabalhar no espaço, que por 20 anos abrigou um show de luz e sombras com as réplicas em gesso.

“Temos uma memória de excelência, mas não tínhamos datas, o acervo estava confuso”, explica a curadora, que, para essa primeira exposição, decidiu fazer uma linha do tempo com toda a história da instituiçã­o. Nessa linha, alguns marcos são interessan­tes, como o ano de 1913, quando o antigo prédio da instituiçã­o, projetado por Ramos de Azevedo, foi cedido para a atual Pinacoteca do Estado.

Além disso, o espaço inferior inclui ainda pequenas salas. No fundo, foram colocadas as réplicas em gesso, como uma homenagem ao antigo centro. Numa parede lateral, fotos e objetos mostram a relação do Liceu com a cidade de São Paulo, ao relembrar construçõe­s que utilizam peças feitas pela instituiçã­o, como as portas da Catedral da Sé ou o Monumento a Duque de Caxias. Por fim, outra parede relembra as oficinas mantidas pelo Liceu, como de serraria, desenho e artes decorativa­s.

Hoje, o Liceu de Artes e Ofícios ainda conta com quatro cursos técnicos gratuitos, além de ensino médio privado.

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AMANDA PEROBELLI/ESTADAO Amplo. Novo espaço conta com dois setores expositivo­s, que já são abertos com mostras Design.
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FOTOS AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO Produção sustentáve­l é o foco da primeira mostra

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