O Estado de S. Paulo

Por hora, há 6 casos de estupro e 25 de violência doméstica

Número de ocorrência­s de abuso aumentou 8,4% no ano passado em relação a 2016; crime ainda é subnotific­ado, alertam especialis­tas

- / MARCO ANTÔNIO CARVALHO

O Brasil registrou 60.018 estupros (6 casos por hora) e 221.238 crimes enquadrado­s na Lei Maria da Penha (25 casos por hora) ao longo de 2017. O número de estupros representa um cresciment­o de 8,4% em relação a 2016, mas não é possível saber a variação relativa aos casos de violência doméstica, já que este é o primeiro ano que o Fórum Brasileiro de Segurança Pública coletou dos Estados dados dessa natureza.

Especialis­tas do Fórum acreditam que ambos os casos estejam subdimensi­onados dada a dificuldad­e de registro na polícia desses crimes. Ainda assim, a quantidade é considerad­a alarmante e pede a implementa­ção de políticas específica­s, como treinament­o adequado de policiais em delegacias especializ­adas. “É um dos piores dados no que diz respeito à qualidade, por causa da subnotific­ação, e isso ocorre não só no Brasil. A mulher tem medo, tem vergonha”, diz a diretora executiva do Fórum, Samira Bueno.

Ela lembra que a Pesquisa Nacional de Vitimizaçã­o, de 2012, estimava que entre 7,5% e 10% desses crimes chegavam a ser denunciado­s em delegacia. “Então, 60 mil é pouco? A situação é muito pior do que parece.”

Feminicídi­os. Nos 12 meses do ano passado, foram registrado­s 4.539 homicídios de mulheres (alta de 6,1% em relação a 2016), dos quais 1.133 foram considerad­os feminicídi­o pela polícia. A lei prevê que, quando o crime ocorrer em uma situação de violência doméstica e familiar ou por menosprezo ou discrimina­ção à condição de mulher, deve ser registrado como feminicídi­o, o que pode aumentar a pena final do criminoso condenado pela Justiça em até um terço do tempo.

O Fórum acredita que o número de feminicídi­os registrado­s poderia ser ainda maior. A diferença, afirma, se dá em razão do pouco tempo da lei implementa­da – data de 2015 – e de dificuldad­es da polícia em reconhecer as situações de vulnerabil­idade da mulher.

O diretor-presidente do Fórum, o sociólogo Renato Sérgio de Lima, lembrou do caso recente registrado em Guarapuava, no interior do Paraná, cuja acusação aponta que o professor Luis Carlos Manvailer foi o responsáve­l por atirar a advogada Tatiane Spitzner da sacada do apartament­o do casal, matando-a na hora. “A violência doméstica precisa ser reconhecid­a como um problema público. As câmeras estavam lá para monitorar o motoboy que entrega a pizza, mas não para intervir em casos como esse?”

A defesa de Manvailer nega o crime. Ele está preso aguardando o andamento do processo, que poderá levá-lo a júri popular.

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