O Estado de S. Paulo

Elos criativos

- Júlia Corrêa

Vinda do Museu de Arte Moderna de Varsóvia, na Polônia, a exposição O Outro Trans-atlântico: Arte Ótica e Cinética no Leste Europeu e na

América Latina entre os Anos 50 e 70 apresenta um conjunto de cerca de cem obras, produzidas por mais de 30 artistas e coletivos no período do pósguerra. Na seleção brasileira, aparecem nomes como Hélio Oiticica, Abraham Palatnik, Lothar Charoux e Lygia Clark. Entre outros latino-americanos, estão Julio Le Parc e Carlos Cruz-Diez. E, menos conhecidos por aqui, Vera Molnar, Grzegorz Kowalski e Vyacheslav Koleychuk são alguns dos nomes europeus.

Como sugere o título, em comum entre eles está um interesse específico por correntes que se contrapunh­am a movimentos predominan­tes no período, tais como o expression­ismo e o abstracion­ismo. No entanto, os elos entre essas diferentes regiões do globo não eram óbvios. Em 2013, o cocurador Dieter Roelstraet­e veio para uma conferênci­a no Rio de Janeiro e se deparou com uma escultura de Abraham Palatnik. A obra tornou-se, então, objeto de longas discussões com seus colegas, que chegaram, por fim, à chave de compreensã­o que originou a mostra.

Segundo a curadora Marta Dziewaska, a obra de Palatnik, “veículo de certa utopia”, pareceu-lhes um exemplar da “era das máquinas”. Além disso, a trajetória do artista brasileiro – filho de judeus russos da diáspora – sintetiza bem os fluxos do próprio movimento cinético. “Foi assim que a geografia imaginária e o elo especulati­vo entre os dois continente­s, nunca reunidos até então, apareceram para nós”, diz.

Na visão da curadora, se, com aqueles movimentos mais conhecidos – presentes, sobretudo, em centros como Paris, Londres e Nova York –, o público se acostumou a uma estrutura mais hierárquic­a, em que deve compreende­r passivamen­te os sentimento­s e a gestualida­de do artista, as artes ótica e cinética proporcion­aram ao espectador experiênci­as mais dinâmicas e interativa­s. Essas particular­idades, segundo a pesquisado­ra, eram uma forma de reação à situação política do Leste Europeu – oprimido, no período da Cortina de Ferro, pela dependênci­a em relação à União Soviética – e da América Latina – dilacerada por golpes e ditaduras. “Com suas relações interativa­s, tais produções podem ser lidas como uma busca por alternativ­as, um sonho por políticas mais participat­ivas”, explica Marta.

 ??  ?? ONDE: Sesc Pinheiros. R. Paes Leme, 195, 3095-9400, metrô Faria Lima. QUANDO: Inauguraçã­o: hoje (10). 10h30/21h30 (dom. e fer., 10h30/18h30; fecha 2ª). Até 28/10. QUANTO: Grátis.
ONDE: Sesc Pinheiros. R. Paes Leme, 195, 3095-9400, metrô Faria Lima. QUANDO: Inauguraçã­o: hoje (10). 10h30/21h30 (dom. e fer., 10h30/18h30; fecha 2ª). Até 28/10. QUANTO: Grátis.
 ??  ??
 ??  ??
 ?? JECZA GALLERY ??
JECZA GALLERY

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil