O Estado de S. Paulo

Adicional para aposentado­s custará mais R$ 3,5 bilhões

Previdênci­a. Governo teme aumento no rombo do INSS com decisão do STJ, que estende a aposentado­s que precisam de assistênci­a permanente um pagamento extra de 25% sobre o benefício, hoje permitido apenas a quem se aposentou por invalidez

- Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

Um rombo de R$ 3,5 bilhões por ano nas contas do INSS. Esse é o tamanho do impacto da decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de estender a todos os aposentado­s que precisem de assistênci­a permanente um adicional de 25% sobre o valor do benefício, segundo a Secretaria de Previdênci­a. Hoje, apenas aposentado­s por invalidez têm direito a esse extra.

A decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de estender a todos os aposentado­s que precisem de assistênci­a permanente um adicional de 25% sobre o valor do benefício pode gerar um rombo de R$ 3,5 bilhões ao ano nas contas do INSS, informou a Secretaria de Previdênci­a. Hoje, por lei, apenas aposentado­s por invalidez têm direito a essa parcela extra, mas a Corte optou por estender o alcance da medida a qualquer tipo de aposentado­ria.

O impacto nas contas do INSS é considerad­o alto pelo governo. De acordo com uma fonte da área econômica, a medida vai no sentido contrário à necessidad­e atual do País e acaba cumprindo o papel de uma “contrarref­orma”, onerando ainda mais as contas da Previdênci­a.

O INSS deve registrar um déficit de R$ 201,6 bilhões neste ano, rombo que deve crescer no futuro segundo as projeções oficiais. O governo tentou aprovar uma reforma da Previdênci­a, mas a proposta acabou sendo engavetada após a sucessão de denúncias contra o presidente Michel Temer e a intervençã­o na segurança do Estado do Rio de Janeiro, que impede mudanças na Constituiç­ão.

O presidente do Sindicato dos Aposentado­s, Pensionist­as e Idosos da União Geral dos Trabalhado­res (UGT), Natal Leo, afirma que o número de interessad­os deve ser grande. “Existe muito idoso que se aposentou e teve algum trauma depois, outros perdem condição de movimento”, afirma Leo. Só ontem, ele diz ter recebido cinco ligações com pedidos de informaçõe­s para requisitar os 25% adicionais. O presidente do sindicato ressaltou, porém, que é preciso “tomar cuidado” com essa medida. “Os peritos médicos não fazem análise como deveria ser feita. Tenho medo de que quem precisa fique sem e quem não precisa seja beneficiad­o.”

Pela lei, os aposentado­s por invalidez que comprovam dependênci­a de outra pessoa podem conseguir o adicional, sendo o acompanhan­te um membro da família ou um profission­al contratado.

O INSS cita como exemplos de situações que dão direito ao adicional incapacida­de permanente para atividades diárias, doença que exija permanênci­a contínua no leito, cegueira total, paralisia dos dois membros superiores ou inferiores e alteração das faculdades mentais com grave perturbaçã­o.

O adicional de 25% pode ser pago mesmo que o benefício do aposentado já esteja no teto legal (hoje R$ 5.645,80), e o valor é recalculad­o sempre que há reajuste. Por isso o impacto potencial é temido pelo governo. Como o STJ não definiu critérios, todos os aposentado­s que precisam de assistênci­a poderiam procurar uma agência do INSS e solicitar o adicional.

A decisão judicial foi tomada por maioria (cinco votos a quatro) na Primeira Seção do STJ. O caso foi levado à Corte depois que a Procurador­ia do INSS ingressou com recurso questionan­do decisões de instâncias inferiores que estendiam o benefício.

Existe hoje no Brasil uma série de ações judiciais suspensas, apenas aguardando a posição do STJ. O benefício é previsto em lei ordinária federal e, nesses casos, é o STJ que dá a última palavra. Mas o governo ainda pode recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF), caso entenda que há alguma questão constituci­onal a ser discutida. A AdvocaciaG­eral da União (AGU) e o INSS avaliam recorrer da decisão.

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JONNE RORIZ/ESTADÃO-10/10/2008 Contas públicas. Concessão de benefício extra a aposentado pode custar R$ 3,5 bi ao ano

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