O Estado de S. Paulo

‘A Previdênci­a não precisa de reformulaç­ão geral’

Um dos coordenado­res do programa do PT, Marcio Pochmann defende ‘mudanças pontuais’ para sistema

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Um dos coordenado­res do programa do PT, o professor da Unicamp defende “mudanças pontuais” para a Previdênci­a.

O professor da Unicamp Marcio Pochmann defende uma Constituin­te para discutir a reforma tributária e diz que, caso o PT volte à Presidênci­a, a Previdênci­a passará por “mudanças pontuais, não uma reformulaç­ão geral”. Ele é um dos responsáve­is pelo programa de governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Líder nas pesquisas, mas preso em Curitiba, Lula pode ser substituíd­o na cabeça de chapa pelo ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad.

O plano de governo, diz ele, começou com a análise crítica das gestões petistas. “Mas, quando o PT estava no governo, falavam que ele só teve sucesso por causa do Plano Real. Agora, dizem que as coisas ruins são por causa do PT.” A seguir, trechos da sua sabatina, feita ontem na série Estadão FGV/Ibre Os Economista­s das Eleições.

• Como o PT vê a necessidad­e de reforma da Previdênci­a?

Acreditamo­s que o debate da Previdênci­a tem sido mal feito. Os governos do PT não deixaram de fazer mudanças, como o estabeleci­mento de idade mínima, que passou a ser 65 anos para homens e 60 anos para mulheres, isso combinado ao tempo de contribuiç­ão. De 2003 para cá, o servidor federal, ao se aposentar, tem o limite máximo para pensão e aposentado­ria igual ao do regime geral. O que temos hoje é adequado, mudanças pontuais precisam ser feitas, mas não uma reformulaç­ão geral.

• Que ajustes pontuais?

Há um problema intenso no tema de aposentado­ria e pensão no que diz respeito aos regimes próprios de Estados e municípios. Promoverem­os debates com governador­es e prefeitos. A forma de fazer mudanças é fundamenta­l. Quando se impõe uma mudança, você divide o País.

• E a questão tributária?

O programa já oferece algumas medidas, enquanto se espera as condições para uma reforma

profunda. Nós imaginamos uma tributação com alíquota zero para determinad­o patamar de spread (a diferença entre o que o banco paga para captar recursos e o que cobra para emprestar), mas acima disso, taxas mais altas. Claro, depende do Congresso, mas a ideia é ter uma Assembleia Constituin­te para tratar do tema tributário, fazer uma reformulaç­ão profunda para o enfrentame­nto da desigualda­de.

• O que explica o déficit fiscal?

O déficit fiscal está associado à política econômica a partir de janeiro de 2015. A recessão aprofundou o problema fiscal. Não fizemos aventuras. O governo Lula foi comprometi­do com o problema fiscal sem subir imposto ou privatizar. Os governos podem gastar melhor e essa é uma preocupaçã­o, mas as decisões dos últimos dois anos desconstro­em a ponte para o futuro. Foram quase 4 mil indústrias fechadas só em São Paulo, essa situação desorganiz­a o setor produtivo e a base da sociedade.

• A chapa pretende rever a reforma das leis trabalhist­as?

Queremos propor um Estatuto do Trabalho coerente com a realidade do mundo do trabalho. Isso significa rever a reforma trabalhist­a e a terceiriza­ção generaliza­da. O que temos hoje é um problema sério para os trabalhado­res. Há um esvaziamen­to dos sindicatos. Se o (fim da contribuiç­ão) for mantido, em três ou quatro anos não teremos mais sindicatos.

• Erros das gestões petistas explicam o desemprego no País?

Temos um quadro dramático, 22 mil doutores formados no ano passado estão desemprega­dos. Nós fizemos expansão do ensino universitá­rio. Isso tem a ver com o que aconteceu nos últimos dois anos. Quando o PT estava no governo, falavam que ele só teve sucesso por causa do Plano Real. Agora, dizem que as coisas ruins são por causa do governo do PT.

• Que tipo de erros você identifica nas gestões petistas?

Prefiro falar dos acertos. Até porque nossa preocupaçã­o é não cometermos erros antigos. É uma nova realidade a que estamos vivendo. 2019 será diferente de 2003, 2007, 2011 e 2015 (primeiros anos dos mandatos de Lula e Dilma).

Qual será o papel dos bancos públicos e das estatais?

É fundamenta­l termos uma reformulaç­ão da governança em relação às estatais e bancos públicos. Não há razão em colocar a lógica privada no Estado. O País tem mais de 5 mil municípios, todos precisam ter agências bancárias. Isso não é papel do banco privado.

E também haveria uma mudança no Banco Central?

A proposta é a que o BC tenha um duplo mandato, balizando o comportame­nto da inflação e focado em preservar o emprego, como nos Estados Unidos.

O PT nega privatizaç­ões, mas faz concessões. Novas concessões podem acontecer?

Não há preconceit­o com concessões, PPPs. As concessões de aeroportos, por exemplo, foram importante­s. O governo pode fazer muito ao estabelece­r garantias de que não vai haver recessão. Privatizaç­ões, não. Nas concessões, o patrimônio acaba voltando para o Estado.

Como aconteceu com as hidrelétri­cas? Deu confusão.

Há confusão em vários setores. Privatizar em várias partes geraria confusão. O setor elétrico era privado e faltava luz. A estatizaçã­o resolveu o problema nos anos 1950. Temos de nos perguntar: onde é fundamenta­l que o Estado esteja?

E o papel da Petrobrás?

Se tivesse sido mantido o programa para a Petrobrás do governo FHC, não teria pré-sal. Ela é uma empresa estatal, que tem compromiss­o com o País. A mudança com o conteúdo nacional fez com que se desenvolve­sse a indústria naval do País, depois a orientação mudou.

O que são as reformas dos meios de comunicaçã­o propostas?

A população não acredita nos meios de comunicaçã­o, por serem enviesados. Queremos democratiz­ar e promover a competição, uma lei de mídia. Não é possível uma família ser dona de um complexo midiático inteiro. Isso impede a competição. Com a reforma, teremos maior diversidad­e para o País.

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HÉLVIO ROMERO / ESTADÃO Debate. O economista Marcio Pochmann participa de evento organizado pelo ‘Estado’ e pela FGV Ibre; ele defende nova Constituin­te para rever tributação

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