O Estado de S. Paulo

Em casa onde falta pão, todo mundo grita e ninguém tem razão. Nesse caso, o pão em falta se chama intenção de votos.

- Vera Magalhães

Em casa onde falta pão, todo mundo grita e ninguém tem razão. Não raro, esse dito popular, tão gasto quanto verdadeiro, assola alguma campanha eleitoral. Quando acontece, o pão em falta se chama votos. A casa da vez é o QG de Geraldo Alckmin.

O tucano apostou tudo numa grande coligação que lhe daria muito tempo de TV e capilarida­de nos Estados. Obteve. De posse de quase metade do tempo de TV e ainda patinando nas pesquisas – o que era previsto; sua aposta é crescer depois do início do horário eleitoral – começam as divergênci­as de como usar essa arma.

Apoiadores de Alckmin se dividem entre os que acham que ele deveria ser mais incisivo em confrontar Jair Bolsonaro e se apresentar como anti-Lula – posto hoje ocupado pelo candidato do PSL – e os que afirmam que ele tem de insistir no discurso de conciliaçã­o, para se beneficiar dos votos de qualquer um dos dois lados caso vá ao 2.º turno com o outro.

Essa leitura “retranquei­ra” do cenário ignora alguns fatores. O primeiro é que se trata de uma campanha de tiro curto, em que um apelo à racionalid­ade, ao consenso e à moderação esbarra num eleitorado polarizado e desiludido.

O segundo é que, antes de pensar na melhor tática para o 2.º turno, Alckmin precisa chegar lá. E esta parece ser sua maior dificuldad­e. Obviamente, se for ele contra Bolsonaro ou Fernando Haddad, o outro desses extremos que não estiver na final tende a votar nele por exclusão.

Portanto, há que se ter alguma ousadia. Mas os que são contrários a isso afirmam que agressivid­ade não combina com o perfil de Alckmin. Há como ser assertivo sem ser agressivo.

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