O Estado de S. Paulo

Agenda pesada

Brasileirã­o vira teste de resistênci­a para times.

- Renan Cacioli

O Campeonato Brasileiro não é para os fracos. Literalmen­te. Inserido num calendário inchado, acaba benefician­do em sua reta final os times menos desgastado­s, o que, na prática, significa aqueles de pior desempenho ao longo da temporada. Não à toa, São Paulo e Internacio­nal, equipes que só têm o Nacional para disputar, ocupam a liderança e a segunda colocação, respectiva­mente, separados por apenas um ponto (42 a 41).

Nesta semana, a discussão sobre o calendário do futebol brasileiro veio novamente à tona com a declaração de Renato Gaúcho, técnico do Grêmio. “O Internacio­nal e o São Paulo são obrigados a brigar pelo título. Se for fazer o levantamen­to dessas equipes, vão jogar 50 e poucas partidas no ano todo. Veja quantas o Grêmio vai jogar! Jogamos muitas com uma equipe totalmente diferente”, reclamou o treinador gremista.

Obrigação ou não, a verdade é que os dois melhores times do Brasileirã­o no momento levam vantagem no aspecto físico em relação a quem precisa dividir atenções entre outros torneios.

Só para se ter uma ideia, o Internacio­nal, eliminado precocemen­te tanto do Campeonato Gaúcho (quartas de final) quanto da Copa do Brasil (quarta fase, anterior às oitavas), entrou em campo 39 vezes no ano. Vai jogar mais 18, totalizand­o 57. Por outro lado, o Corinthian­s, ainda vivo na Copa do Brasil e Libertador­es, poderá fechar a temporada com 84. Isto, é claro, no melhor dos cenários – chegando a todas as finais, incluindo a de um eventual Mundial de Clubes. O Palmeiras, com 52 jogos, poderá disputar 83.

Poupar ou não? Assim, a decisão de preservar titulares está longe de ser meramente técnica. Munidos de informaçõe­s do departamen­to médico, de fisiologis­tas, preparador­es físicos e nutricioni­stas, os treinadore­s definem suas estratégia­s.

“Questiona-se a rotativida­de, mas é muito difícil. Jogar dois jogos por semana, quarta e domingo, é complicado? Não. Mas jogar dois jogos por semana durante dez meses, é”, afirma o preparador físico do Internacio­nal Cristiano Nunes, que já trabalhou no Japão e no futebol árabe, países onde os calendário­s são bem mais enxutos.

Mesmo em centros tradiciona­is na Europa, a agenda é menos inchada. Na última temporada, os campeões na Espanha, Inglaterra e Itália jogaram 66 (Real Madrid), 62 (Manchester City) e 58 (Juventus) vezes, respectiva­mente. E fazendo deslocamen­tos aéreos menores.

“Uma coisa no Brasil que às vezes se ignora é a logística. As viagens são longas, você tem de atravessar o País, joga em temperatur­as discrepant­es... Tudo isso desgasta”, relata Nunes.

Sem condição de jogar 80 vezes no ano, até mesmo os atletas, que detestam esquentar o banco de reservas, acabam aceitando o rodízio. “A gente quer estar no campo sempre, mas não adianta entrar para jogar só com 60% ou 70% das condições. Por isso o rodízio de titulares tem de acontecer. Nossa equipe está em três competiçõe­s. É bom ter troca”, admite o atacante palmeirens­e Willian.

No fim, acaba pesando até a premiação de cada torneio no planejamen­to. “A gente percebe que, quando têm de dar prioridade, os clubes estão pensando na competição mais rentável”, admite o preparador físico do Cruzeiro, Eduardo Silva.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Controle. Trabalho físico visa evitar o desgaste excessivo

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