O Estado de S. Paulo

Pesquisa mostra as fragilidad­es de candidatos

Pesquisa mostra perfis de eleitores com os quais os presidenci­áveis não conseguem dialogar; probabilid­ade do quadro se manter é alta

- Daniel Bramatti / COLABORARA­M ALINE TORRES, GABRIELA RAMOS, JUAREZ OLIVEIRA, KATNA BARAN, MARÍLIA NOLETO, RENE MOREIRA e YURI SILVA

Pesquisa Ibope/Estado/TV Globo mostrou que Bolsonaro tem forte resistênci­a entre as mulheres e Marina, entre os homens. Ciro patina entre evangélico­s e Alckmin não consegue conquistar os jovens. Por ora, campanhas devem concentrar esforços nos grupos em que têm melhor desempenho.

Jair Bolsonaro (PSL) enfrenta forte resistênci­a no eleitorado feminino. Marina Silva (Rede) patina entre os homens. Ciro Gomes (PDT) não convence os evangélico­s. Geraldo Alckmin (PSDB) não atrai os mais jovens. Fernando Haddad (PT), provável substituto de Luiz Inácio Lula da Silva, tem desempenho pífio no interior.

Além de mostrar quem lidera a corrida eleitoral, a pesquisa Ibope/Estado/TV Globo expôs os segmentos do eleitorado em que os candidatos têm desempenho mais fraco que a média.

É provável que esse quadro se mantenha, em um primeiro momento: as equipes de campanha dos principais concorrent­es não planejam fazer agora esforços para conquistar eleitores mais resistente­s. Pelo contrário, a estratégia é reforçar os laços com eleitores de perfil mais afeito ao discurso de cada um.

Apenas um terço do eleitorado de Bolsonaro é formado por mulheres – sendo que as eleitoras são 53% do eleitorado nacional. O deputado, que costuma obter alto engajament­o de seguidores nas redes sociais, também enfrenta resistênci­as no eleitorado mais velho e menos conectado à internet.

Eliane Souza, que vive em Teresina, no Piauí, é contundent­e ao explicar os motivos que a levam não cogitar o candidato do PSL nas eleições. “Ele entra em polêmicas sobre racismo, mulheres, homofobia... Não acho que ele tenha condições de governar o nosso país”, afirmou.

Moradora da periferia de Salvador, a aposentada Maria José dos Santos, de 76 anos, não possui celular nem para fazer ligações e não usa aplicativo­s como WhatsApp ou se conecta em redes sociais. “Não sei quem é esse cara, nunca ouvi falar”, disse ela, ao ser questionad­a sobre a candidatur­a de Bolsonaro, que concentra simpatizan­tes no segmento mais escolariza­do e de maior renda. No outro extremo, é escasso o apoio entre os mais pobres e que estudaram até a quarta série.

“Quem quiser que vote nele, eu não”, disse Maria José, surpresa ao saber que lidera as sondagens eleitorais quando o expresiden­te Lula não é incluído entre os candidatos.

Se dois terços do eleitorado de Bolsonaro é masculino, com o contingent­e que apoia Marina ocorre o contrário. Segundo o Ibope, somente 37% dos eleitores da candidata da Rede ao Planalto são homens. Ela também tem desempenho abaixo da média nacional entre os eleitores mais velhos, brancos, de renda alta e do interior.

“Ah, não dá, Marina tem um sério problema de confiabili­dade governamen­tal”, disse Rinaldo Gomes da Silva, de Pitangueir­as, cidade na região de Ribeirão Preto, em São Paulo. Do Paraná vem mais um “não” para Marina. “Ela não me inspira confiança. Tem que ter pulso firme, tem que ter a última palavra e nos discursos ela não demonstra isso”, afirmou Paulo Juliano Choma, da cidade de Mallet.

Mulher, branca, evangélica e moradora da região Centro-Oeste, a radialista Yara Galvão, de Aparecida de Goiânia (GO), é representa­nte de vários segmentos nos quais Ciro tem desempenho ruim. Para ela, o “histórico político” do representa­nte do PDT “desabona o candidato”.

Lucas Morais, de 26 anos, morador de Fortaleza, considera Alckmin um candidato dos “empresário­s sulistas”, o que afasta qualquer possibilid­ade de votar no ex-governador. Morais encarna, ao mesmo tempo, dois segmentos em que o tucano tem desempenho inferior à média: nordestino­s e jovens.

Na divisão das intenções de voto por gênero e por religião, porém, a distribuiç­ão dos simpatizan­tes de Alckmin espelha exatamente a composição do eleitorado do País.

Haddad ainda nem se apresenta como possível candidato, apesar de o PT apostar nele como “plano B” para quando Lula for declarado inelegível por problemas legais – o ex-presidente foi condenado em segunda instância na Lava Jato e está preso desde o dia 7 de abril.

Pouco conhecido no País, Haddad é ainda mais ignorado fora das capitais. “É um cara que não se destaca”, disse Gilmar Baioto, 51 anos, comerciant­e de Porto Belo (SC). “Não conheço o trabalho dele”, afirmou em discurso parecido ao de Rosângela Souza, de Florianópo­lis.

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