O Estado de S. Paulo

Bolsonaro e Alckmin têm artilharia, mas Lula tem mais. Abusa de ações para efeito jornalísti­co.

- Eliane Cantanhêde

Lula é imbatível ao usar (e abusar) da mídia e estar sempre nos jornais, rádios, TVs e revistas. Bolsonaro viu antes de todos o poder multiplica­dor das redes sociais. Alckmin dispõe de um latifúndio da propaganda eleitoral no rádio e na TV. Marina e Ciro vão ter de enfrentar essa artilharia no gogó.

Lula foi condenado e preso, o PT afundou até vencer numa única capital – a pequena Rio Branco, no Acre – e, apesar de tudo isso, o ex-presidente foi se recuperand­o e hoje é o campeão nas pesquisas de primeiro e segundo turnos. Como explicar?

Fácil. Ele e o PT são mestres no marketing, na propaganda, sabem criar notícia, garantir visibilida­de e usar a patrulha para acuar os críticos. Lembram do “Fome Zero”? Um plano vazio, mas de efeito midiático acachapant­e. No final, virou um selinho escondido nos programas sociais da era PT, na verdade uma fusão dos herdados de FHC.

Aliás, que tal a “herança maldita”? Como diz Marina Silva, Fernando Henrique escancarou o seu governo para Lula, na mais civilizada transição pós-redemocrat­ização, mas a primeira coisa que Lula fez ao assumir foi escrachar a “herança maldita”. Colou, apesar do Plano Real, da blindagem do sistema financeiro, das agências reguladora­s e dos planos sociais, como o Bolsa Família. Tudo que Lula “vende” cola.

E, aí, temos Lula campeão de votos, mesmo preso, mas Jair Bolsonaro não é bobo. Político medíocre, do “baixo clero” da Câmara, ele foi esperto e viu antes o poder multiplica­dor da internet. Enquanto os adversário­s trabalhava­m ou se viam às voltas com a Justiça, como Lula, ele amealhava multidões na nuvem e mergulhava nelas viajando pelo País afora.

O resultado é que ninguém dava bola para Bolsonaro e ele hoje não é apenas o número um no cenário sem Lula como tem 5,5 milhões de seguidores só no Facebook. Lula, que lá atrás, há muitos anos, foi o primeiro a usar as redes para reagir a notícias negativas e detratar críticos e jornalista­s, tem 3,7 milhões. Geraldo Alckmin, na lanterna, 913 mil. Perdeu essa guerra. Por teimosia e por uma visão antiquada das campanhas – ou do mundo? –, o candidato tucano dava de ombros para esse negócio de Facebook, Twitter, WhatsApp... “Quem ganha eleição é a televisão”, dizia. Além da rima pobre, há controvérs­ias...

Alckmin tem 5 minutos e 434 inserções de TV para usar como palanque: falar o que bem entende, sem ser contestado. Bolsonaro tem 8 segundos e onze inserções. O que dizer em 8 segundos? “Meu nome é Jair”? Ele deveria controlar o pavor de controvérs­ia e ir a debates e entrevista­s, inclusive à do Estadão-Faap, nesta semana, para não sumir. Marina vai muito bem nessa fase e é a segunda colocada no cenário sem Lula. O risco é perder fôlego na fase decisiva, como em 2014, mesmo sem o PT jogando sujo com a versão de que ela “tiraria a comida do prato do povo”.

E Ciro, depois de jogado fora pelo PT e recusado pelo DEM, não se destaca nem na mídia, nem nas redes, nem na propaganda gratuita: tem 38 segundinho­s e 51 inserções. Talvez por isso, ele está mais leve, mais simpático. O pânico de vencer passou? Como me disse a psicanalis­ta Marta Suplicy: “Ciro, claramente, não quer ganhar”.

Assim, Lula, Bolsonaro e Alckmin têm artilharia, mas Lula tem mais. Abusa de ações, questionam­entos e habeas corpus para efeito jornalísti­co e vai bem nas searas de Bolsonaro e Alckmin. Líder no uso da mídia, é o segundo na internet (3,7 milhões no Facebook) e na TV (2 minutos e 189 inserções). Tudo somado, Fernando Haddad já entra na guerra armado até os dentes. Nem pode reclamar da real “herança maldita”.

Lula, Bolsonaro e Alckmin têm artilharia; mas Lula tem, além da própria, a dos adversário­s

‘Bravura’. Não bastasse o atual número de mortos, Bolsonaro propõe condecorar quem reagir a assaltante­s. Haja medalha para tanto defunto!

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil