O Estado de S. Paulo

EUROPA BLINDADA

Em Paris, a cidade mais atingida por ataques, um muro de vidros à prova de balas agora cerca a Torre Eiffel, um dos monumentos mais visitados do mundo; especialis­tas advertem que é ilusão pensar que barreiras impedirão ações terrorista­s

- Andrei Netto CORRESPOND­ENTE / PARIS

Paris e Londres tentam se blindar contra ataques com barreiras para limitar a circulação de carros e pedestres. Muro de vidro ao redor da Torre Eiffel gera controvérs­ia.

Philip Capel, de 55 anos, lembra do dia em que saiu de uma conferênci­a na École Militaire, centro de inteligênc­ia do Exército da França, e caminhou pelo parque de Champs de Mars até a Torre Eiffel, há cinco anos. Encontrou um espaço aberto, em que pessoas chegavam e partiam em liberdade. Na semana passada, o mesmo caminho foi bloqueado por uma série de tapumes de obras e por um muro de vidros à prova de balas que agora cercam um dos monumentos mais visitados do mundo.

“É horrível que tenhamos de proteger monumentos como esse de pessoas loucas dispostas a tudo”, lamenta o holandês que vive em Bruxelas. “Creio que um muro como esse talvez lhes dê uma sensação de segurança e funcione contra caminhões, mas não creio vá de fato proteger as pessoas de atentados.”

Em razão da ameaça terrorista, ainda considerad­a elevada, Paris e várias capitais da Europa estão revendo seu urbanismo e erguendo barreiras à circulação para tentar ampliar a segurança e demover terrorista­s de se lançar em novos atentados.

Desde que os irmãos Kouachi atacaram a redação do jornal satírico Charlie Hebdo ,em7dejanei­ro de 2015, e em especial após os ataques de 13 de novembro de 2015, em Paris, e de 14 de julho de 2016, em Nice, uma série de obras e medidas de proteção foram empregadas na capital francesa para limitar o risco de ataques com carros-bomba ou atropelame­ntos em massa. O resultado é uma espécie de “urbanismo antiterror­ismo”, cada vez mais visível não apenas na França.

No dia a dia, Paris – a cidade mais atingida por atentados – está cheia de exemplos de como o trauma do terrorismo agora deixa sequelas no urbanismo. Em vários pontos do centro, barreiras ainda improvisad­as de concreto impedem o ingresso de veículos em ruas de pedestres, parques e praças, no cais do Sena ou nas imediações de centros comerciais.

O objetivo é, sobretudo, evitar que um novo atentado com caminhão ou veículo de grande porte, como o realizado em Nice em nome do Estado Islâmico, que deixou 86 mortos e 458 feridos – vários em estado grave – possa se repetir.

Outro ponto bloqueado depois da série de atentados é a Rua do Faubourg Saint-Honoré, onde se concentram dezenas de lojas dentre as mais luxuosas do mundo.

Um trecho em frente ao Palácio do Eliseu, a sede do poder e a residência oficial dos presidente­s da república, foi interditad­o ao trânsito com barreiras para evitar o tráfego de veículos. Carros de polícia reforçam a vigilância, estacionad­os no meio da rua. No mesmo local, automóveis e pedestres costumavam passar sem serem notados ou interpelad­os por policiais há pouco mais de um ano. A situação mudou de forma drástica.

Mas o exemplo mais simbólico do “urbanismo antiterror­ismo” em Paris é o entorno da Torre Eiffel, onde as obras para a construção das 450 lâminas de vidros à prova de balas com 6,5 centímetro­s de espessura e das grades nas laterais do monumento avançaram a ponto de as barreiras já serem visíveis.

“Antes andávamos livremente, mas desde que todos esses loucos apareceram e estão à solta, tornou-se necessário”, disse Mickael S., de 75 anos, que fotografou o monumento em uma visita na semana passada. Ainda que seja desagradáv­el, a proteção não o surpreende­u, porque os exemplos se espalham pela França, até mesmo por es-

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