O Estado de S. Paulo

Campanha mais curta testa poder da TV

Orçamentos mais modestos e influência das redes sociais colocam em xeque formato consagrado; propaganda eleitoral começa nesta semana

- Adriana Ferraz Marianna Hollanda Pedro Venceslau Ricardo Galhardo Constança Rezende / RIO / COLABORARA­M GILBERTO AMENDOLA e LUIZ RAATZ

Dez dias mais curta, a propaganda eleitoral na TV terá largada nesta sexta-feira e vai testar o poder do meio de ainda influencia­r a escolha do eleitor. O formato desta eleição assegura aos presidenci­áveis um total de 15 programas ao longo de 35 dias. Para quem tem mais tempo, como Geraldo Alckmin (PSDB) e Henrique Meirelles (MDB), essa é considerad­a a última oportunida­de de crescer nas pesquisas e chegar ao segundo turno.

Diferentem­ente das eleições presidenci­ais anteriores, custeadas com doações de empresas e marcadas por investimen­tos milionário­s em ações de marketing, a força eleitoral da TV tem sido contrapost­a ao imediatism­o das redes sociais, canais do YouTube e WhatsApp.

As redes sociais têm sido centrais, por exemplo, na estratégia de Jair Bolsonaro (PSL). Em julho, levantamen­to do Estado encontrou 83 páginas de seguidores que fazem campanha do presidenci­ável. Essas páginas quadruplic­am sua relevância na rede, em relação ao alcance da página oficial de Bolsonaro.

“Como o tempo de campanha é menor, em termos relativos vai ter menos informação circulando pela TV. Ela perde um pouco de importânci­a, enquanto a internet vira uma alternativ­a viável”, disse o professor de ciência política da USP Glauco Peres.

A ampla exposição que Bolsonaro obtém na internet, no entanto, não se repetirá quando começar o programa eleitoral. Com apenas um aliado, o PRTB, o deputado terá direito a 8 segundos na TV e no rádio para expor seu nome e o número de seu partido. Em contrapart­ida, Alckmin aposta todas as fichas nos mais de cinco minutos a que terá direito em cada um dos dois bloco fixos por dia para sair da quarta posição.

“Vou conseguir falar um pouquinho de mim, e está bom demais”, afirmou Bolsonaro ao Estado. Sua estratégia, porém, vai além disso. Nos poucos segundos de TV, ele vai chamar o eleitor para acompanhar as lives (transmissõ­es ao vivo na internet) que fará em redes sociais. “A gente vai fazer uma live e chamar o eleitor (pela televisão).”

“(A produção será feita) por um rapaz que a gente contratou na Paraíba, que é baratinho”,

disse o presidente do PSL, Gustavo Bebianno. “Vamos ter de gastar um pouquinho com produção de vídeo, mas é tudo muito simples. Nosso dinheiro é curto. Vamos gastar R$ 1 milhão, no máximo, com a campanha toda. A gente come cachorro-quente, dorme no chão.”

Alckmin. Auxiliares de Alckmin acreditam que o PT tem um lugar garantido no segundo turno da eleição. Como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato, está potencialm­ente impedido de concorrer pela Lei da Ficha Limpa, esse candidato deverá ser o ex-prefeito Fernando Haddad. Neste sentido, o foco das inserções de 30 segundos distribuíd­as pela programaçã­o deverá ser a

“desconstru­ção” de Bolsonaro.

A campanha, porém, não consegue chegar a um consenso sobre a melhor forma de atacar o adversário. A avaliação é de que temas como ditadura, armas e homofobia não colam no deputado – que teria apoio incondicio­nal do seu eleitorado.

Na campanha também há divergênci­as sobre o comportame­nto de Alckmin. Parte dos aliados defende um tom mais agressivo e a polarizaçã­o do debate com Bolsonaro. O ex-governador resiste e argumenta que isso foge ao seu estilo, mas ele tem, pontualmen­te, feito críticas ao deputado do PSL.

Estabeleci­da pelas coligações registrada­s no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a duração dos programas que formarão

o horário eleitoral gratuito varia de 5 segundos a 5 minutos e 32 segundos. Candidatos à Presidênci­a serão expostos às terças, quintas e sábados, mesmo calendário a ser cumprido pelas emissoras de rádio.

Cada um com sua estratégia, os candidatos vão vender ao eleitor uma opção de mudança para o Brasil. Numa eleição em que o atual presidente é escondido até por aliados, as campanhas vão adotar um discurso de oposição, até mesmo Meirelles, ex-ministro da Fazenda do governo Temer. No primeiro programa, vazado na internet, o emedebista optou por mostrar não Temer, mas Lula, de quem foi presidente do Banco Central.

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CIETE SILVERIO Palanqueel­etrônico. Os candidatos Henrique Meirelles, Alvaro Dias e Geraldo Alckmin gravam seus programas eleitorais
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CRISTIANE SALLEA
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PAULO VASCONCELO­S

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