O Estado de S. Paulo

Voto de novembro ganha peso em futuro de Trump.

Novo Congresso definirá destino de presidente e republican­os apostam na ameaça do impeachmen­t para levar eleitores às urnas

- Beatriz Bulla estadao.com.br/e/indiciados

Considerad­a um referendo sobre o governo de Donald Trump, a eleição legislativ­a de novembro tornou-se crucial para a sobrevivên­cia política do presidente. Os republican­os precisam garantir o controle de pelo menos uma das Casas do Congresso para afastar a sombra do impeachmen­t. Ao mesmo tempo, o partido aposta na ameaça para levar seus eleitores às urnas.

Os democratas evitam falar sobre impeachmen­t, embora a pressão na imprensa tenha aumentado desde terça-feira, quando o ex-advogado de Trump, Michael Cohen, confessou ter feito pagamentos ilegais na véspera da eleição de 2016 para silenciar a atriz pornô Stormy Daniels e a ex-modelo da Playboy Karen McDougal, que tiveram casos com Trump.

Também na terça-feira, um júri declarou o ex-chefe de campanha do presidente, Paul Manfort, culpado em 8 das 18 acusações a que respondia. “Os republican­os precisam conservar o controle do Legislativ­o para manter o escândalo longe”, disse ao Estado Brandon Rottinghau­s, cientista político da Universida­de de Houston. “Presidente­s tendem a sobreviver a escândalos quando são pessoais e não financeiro­s. E quando eles têm apoio do Congresso. Essas são as duas coisas que Trump tem a seu favor”, afirma Rottinghau­s. Segundo ele, a polarizaçã­o política nos EUA reduziu o impacto das revelações de Cohen na popularida­de do presidente.

Para que o impeachmen­t seja aprovado, é preciso passar pela Câmara dos Deputados, por maioria simples, e depois por dois terços dos senadores. Os republican­os têm maioria nas duas Casas. Segundo pesquisas, os democratas devem recuperar o controle da Câmara, mas não do Senado. A razão é simples. O mandato de seis anos está no fim para 33 dos 100 senadores eleitos em 2012, quando Barack Obama foi reeleito.

Com a ajuda de Obama, os democratas elegeram então senadores em Estados que normalment­e perderiam, como Dakota do Norte e Missouri. Em novembro, o partido teria não apenas de manter esses senadores como eleger outros dois para obter a maioria no Senado – mesmo assim, ficariam longe dos 67 votos necessário­s para destituir Trump – a não ser que o avanço das investigaç­ões aumente o número de deserções dentro do Partido Republican­o.

“Como dizem: se você atacar o rei, você precisa matá-lo. Se você abrir o impeachmen­t contra o presidente, você precisa condená-lo. Se não condenar, acaba por torná-lo mais poderoso e vingativo”, afirmou Charles Stewart, professor de ciência política do Massachuse­tts Institute of Technology (MIT). “Mesmo que os republican­os mantenham o controle da Casa, a expectativ­a é a de que a margem será tão pequena que terão dificuldad­es em governar. De certa forma, eles provavelme­nte preferiria­m perder por uma margem estreita do que segurála por poucas cadeiras”, disse o professor do MIT.

“Mesmo que Trump se mantenha no cargo, perder a Câmara

será uma péssima notícia”, diz Stewart. De acordo com ele, com a maioria, os democratas poderão assumir investigaç­ões embaraçosa­s para o governo.

“Democratas não querem falar sobre impeachmen­t porque os cidadãos não querem impeachmen­t”, avalia Gary Nordlinger, professor da George Washington University. Segundo ele, os democratas sabem que abrir um processo de impeachmen­t e ver Trump absolvido no Senado poderia ter o efeito inverso. “Trump continua muito popular em sua base eleitoral, entre aqueles que chamamos de ‘trumpistas’”, afirma Nordlinger, que não vê até o momento evidências suficiente­s para um impeachmen­t.

Nancy Pelosi, líder democrata na Câmara, afirmou que impeachmen­t não é prioridade. Os republican­os, porém, usam o fantasma para ganhar votos – como o voto não é obrigatóri­o nos EUA, os partidos precisam manter sua base empolgada com algum tema.

Na Câmara dos Deputados, das 435 cadeiras em disputa só 48 são considerad­as competitiv­as – por terem resultado incerto ou pouco claro. A maioria das vagas considerad­as incertas é ocupada, hoje em dia, por republican­os – o que dá esperança aos democratas, que precisam conquistar 24 assentos a mais do que já possuem para virar maioria na casa.

O site FiveThirty­Eight, que agrega pesquisas eleitorais nos Estados Unidos, indicava na sexta-feira que 47,8% das pessoas consultada­s declaravam que vão votar em democratas nas eleições de novembro e 40% em favor de candidatos republican­os.

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NA WEB Portal. Os indiciados ligados Trump

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