O Estado de S. Paulo

Casos de impeachmen­t

- LOURIVAL SANT’ANNA EMAIL: CARTA@LOURIVALSA­NTANNA.COM LOURIVAL SANT’ANNA ESCREVE AOS DOMINGOS

Asemana foi dura para o presidente Donald Trump. Seu ex-advogado, Michael Cohen, testemunho­u ter pagado, na campanha de 2016, por ordem do então candidato, pelo silêncio de duas mulheres com as quais Trump teria tido casos. A Constituiç­ão americana prevê impeachmen­t por “traição, suborno e outros crimes e desmandos graves”. Enganar os eleitores pode se incluir aí.

Além disso, as investigaç­ões do procurador especial Robert Mueller sobre o envolvimen­to da Rússia na eleição resultaram no primeiro veredicto. Paul Manafort, que coordenou a campanha de Trump no primeiro semestre de 2016, foi condenado por ocultar seus trabalhos de lobby para clientes estrangeir­os, incluindo o ex-presidente ucraniano Viktor Yanukovich, aliado do russo Vladimir Putin.

Não é motivo para impeachmen­t, mas indica que Mueller está avançando. Sua equipe tomou 30 horas de depoimento do conselheir­o da Casa Branca Don McGahn. Trump não escondeu sua preocupaçã­o com esse longo interrogat­ório.

Hoje não há condições políticas para impeachmen­t. O processo é aberto por maioria simples na Câmara dos Deputados e a condenação, aprovada por dois terços do Senado. Os republican­os têm maioria em ambos.

Os próprios democratas evitam falar em impeachmen­t, para não serem prejudicad­os nas eleições de 6 de novembro. A Câmara será toda renovada, e os democratas podem obter a maioria simples. Mas será eleito apenas um terço do Senado. A conquista de dois terços é improvável.

Para que os senadores republican­os aderissem, depois das eleições, ao impeachmen­t do presidente, seria necessário que sua popularida­de caísse entre o eleitorado do partido. Os índices de aprovação de Trump têm variado pouco desde o início do mandato. Segundo pesquisa publicada na sexta-feira pela Associated Press, 60% dos americanos desaprovam sua gestão e 38% aprovam.

A sondagem foi realizada antes da condenação de Manafort, na terça-feira. Mesmo assim, já evidencia o incômodo do eleitorado: dois terços desaprovam os ataques de Trump à investigaç­ão de Mueller. De dez aspectos, esse merece a maior desaprovaç­ão dos republican­os: um terço.

Em contrapart­ida, Trump tem a maior aprovação na economia: 51% dos eleitores em geral, 90% dos republican­os e 23% dos democratas. O índice é bem mais alto do que a aprovação dos democratas para a gestão como um todo: 7%.

A história sugere estreita correlação entre desempenho econômico e processos de impeachmen­t americanos (e brasileiro­s). Quando Richard Nixon iniciou o segundo mandato, em janeiro de 1973, o índice S&P 500 da Bolsa de Nova York batia alta recorde, assim como a popularida­de do presidente.

Isso, sete meses depois da eclosão do escândalo de Watergate. No fim daquele ano, em meio à crise do petróleo, a inflação tinha subido de 2,5% para 4,7%, enquanto o S&P 500 caía 17%. A aprovação de Nixon desabou de quase 70% para 30%. Nesse período, a tese de impeachmen­t ganhou força.

De janeiro a julho de 1974, o S&P 500 caiu outros 19%, a inflação bateu em 8% e a aprovação de Nixon foi a 20%. No dia 9 de agosto, diante da perda de apoio republican­o e do impeachmen­t iminente, Nixon renunciou.

Compare agora com Bill Clinton: seu processo de impeachmen­t não afetou a economia. O S&P 500 subiu 30% entre a eclosão do escândalo envolvendo a estagiária Monica Lewinsky, em janeiro de 1998, e a rejeição do impeachmen­t pelo Senado, em fevereiro de 1999.

O mercado não se abateu na semana passada: o S&P subiu 0,9%; Nasdaq, 1,7%; e Dow Jones, 0,5%. Desde que Mueller foi nomeado procurador especial, em maio de 2017, as ações subiram cerca de 20%.

Colapso. Não por acaso, Trump está em um embate com o presidente do Banco Central americano, Jerome Powell, para que não suba a taxa de juro, revertendo o cresciment­o na casa dos 4%. Powell quer subir a taxa, hoje de 2%, para evitar superaquec­imento. Trump, que nomeou o presidente do FED em fevereiro, diz ter se iludido achando que ele fosse a favor de “dinheiro barato”.

Quando declarou na quinta-feira que seu impeachmen­t levaria a um “crash” da economia, Trump talvez tenha invertido a ordem: um fim do ciclo de cresciment­o é que pode contribuir para sua saída – seja pelo impeachmen­t ou pela não reeleição.

O fim do ciclo de cresciment­o econômico é que pode contribuir para saída de Trump

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