O Estado de S. Paulo

‘TUDO CONTINUA FAZENDO SENTIDO’

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Vidas Secas, a obra que consolidou a imagem de Graciliano Ramos como escritor e intelectua­l, foi publicada no primeiro trimestre de 1938. Oitenta anos e 137 edições depois, o escritor Ricardo Ramos Filho, neto de Graciliano que se tornou pesquisado­r da vida e da obra do avô na Universida­de de São Paulo (USP), afirma que Vidas Secas é muito mais do que um romance regionalis­ta e que classificá-lo dessa forma é diminuir o seu valor.

Leia, a seguir, trechos da entrevista que Ramos Neto concedeu ao Estado:

O que Graciliano não teve a chance de retratar quando escreveu

Vidas Secas? Por ser um profundo conhecedor da região, Graciliano escreveu um texto decisivo. Poucas coisas deixaram de ser abordadas. Com olhar do presente, o texto continua atual: esse Nordeste e esse sertão não mudaram. Tudo que Graciliano falou continua fazendo sentido: a realidade é a mesma.

• Muita gente associa o livro a um retrato da seca, e claro que ele tem essa marca, mas você acredita que essa era a questão central para ele?

Classifica­r Graciliano como regionalis­ta é diminuir o valor da obra do Velho. Vidas Secas é um livro com tema de fundo da migração, da necessidad­e de sair de um lugar e procurar uma vida melhor, é um drama que acontece em muitos lugares, inclusive na Europa de hoje. Nesse aspecto, a obra continua atual. Como pano de fundo, a seca serviu para que Graciliano pudesse trazer à tona sua preocupaçã­o com a opressão do ser humano, com a injustiça de um sistema social que não se preocupa em dar garantias de subsistênc­ia à população. O drama da seca perdura.

• Qual é a falta que um olhar como o do Graciliano Ramos faz para o Brasil de hoje?

Graciliano, se vivo, seria uma voz que continuari­a gritando, ressaltand­o e colocando em foco as mazelas da vida brasileira, que são muitas e vêm se acentuando. Certamente ele seria muito crítico com o governo atual, com a dificuldad­e que a Justiça tem de ser justa.

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FELIPE RAU / ESTADÃO – 3/7/2013

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