O Estado de S. Paulo

HÁ 45 ANOS, O ERRO DE ARMANDO MARQUES

Em 26 de agosto de 1973, um dos árbitros mais polêmicos do País se atrapalhav­a nas contas dos pênaltis e dava Santos e Portuguesa como campeões estaduais

- Leandro Silveira

Omaior erro de aritmética do futebol brasileiro completa 45 anos hoje. Em 26 de agosto de 1973, a falha do árbitro Armando Marques na contagem e cálculo dos gols da disputa de pênaltis levou o Campeonato Paulista a terminar com dois campeões: Santos e Portuguesa. A final levou 116 mil torcedores ao Morumbi e reuniu em campo nomes como Carlos Alberto, Clodoaldo, Edu e Pelé de um lado e Badeco, Basílio e Enéas de outro – comandados, respectiva­mente, pelos lendários Pepe (Santos) e Otto Glória. Mas o personagem da partida acabou sendo o árbitro.

Após igualdades sem gols no tempo normal e prorrogaçã­o, a definição do campeão foi para os pênaltis. Embora Zé Carlos tenha parado em Zecão na primeira cobrança santista, o time abriu 2 a 0 com Carlos Alberto e Edu, além da defesa de Cejas no chute de Calegari e da bola na trave de Wilsinho.

Só que, depois desse erro, ocorreu um bem maior. Armando Marques apontou o fim da disputa, não percebendo que a Portuguesa ainda tinha chance de igualar o placar. O Santos, pela conta errada, voltava a ser campeão paulista após quatro anos, uma eternidade para uma equipe que tinha Pelé com a 10.

“Senti que tinha algo errado, mas pensei que o errado devia ser eu”, relembra Pepe, técnico do Santos, em entrevista ao Estado. “O Armando Marques apitava todas as decisões naquela época, ninguém imaginava que ele cometeria um erro desses.”

Cometeu, como ele mesmo percebeu instantes depois. “Foi um simples erro de matemática”, disse à época. “A culpa é toda minha”, admitiu o juiz que morreu em 18 de julho de 2014.

A Portuguesa e sua diretoria também perceberam a lambança. E ainda com os jogadores abatidos, os tirou rapidament­e do gramado do Morumbi. Os cartolas recolheram os uniformes dos atletas, inviabiliz­ando a continuida­de da disputa de pênaltis, a ponto de os jogadores só tomarem banho a quilômetro­s de distância, já no Canindé.

“Os dirigentes da Portuguesa estavam atentos e foram tirando os atletas de campo. Tiraram minha chuteira e camisa. Fiquei só de atadura e calção. Fomos tomar banho no Canindé”, contou Basílio ao Estado, relatando a frustrada tentativa de Armando Marques de tirar os jogadores da Lusa do vestiário para concluir a disputa.

Diante do impasse, da ameaça do comando da Lusa de pedir a impugnação do jogo e da falta de datas para realização de um novo duelo, as diretorias chegaram a um acordo com a Federação Paulista de Futebol. Sem precisar levar o caso aos tribunais, Santos e Lusa foram declarados campeões do Estadual.

“Preferimos dividir o título. A conversa aconteceu nos vestiários”, relembra Pepe. “Queríamos que tivesse outro jogo, porque o momento da Portuguesa era bom”, diz Basílio, lembrando que seu time havia se classifica­do à final por ter vencido o segundo turno do Paulista com uma campanha em que havia batido o Santos por 1 a 0.

A chance iminente perdida de ser campeão “sozinho”, pois bastava converter uma das cobranças ou contar com novo erro da Lusa, incomodou o elenco santista. “Os jogadores da Portuguesa ficaram eufóricos. O pessoal do Santos ficou meio bronqueado, mas era melhor não arriscar”, comenta Pepe. O Santos tinha um time veterano, o último Estadual de Pelé. A conquista, o terceiro paulista da Lusa, foi sua última na elite paulista.

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ACERVO ESTADÃO Festa antes da hora. Pelé liderou a comemoraçã­o, mas o Santos acabou tendo de dividir o título com a Portuguesa

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