O Estado de S. Paulo

Amor e sonhos substituem o salário

Niterói Basquete disputa o Estadual do Rio com atletas que não ganham para jogar, mas confiam no futuro do projeto

- Marcius Azevedo

A diferença de 64 pontos no placar evidenciou o abismo existente entre o Flamengo e o Niterói Basquete. Mas, neste jogo válido pelo Campeonato Estadual do Rio de Janeiro, os dois lados são vencedores. O adversário do poderoso time rubro-negro, que tem orçamento superior aos R$ 6 milhões por temporada, está em quadra pelo amor ao basquete e por acreditar em um projeto idealizado em 2013. Todos têm um passado no esporte, mas ninguém recebe salário. Ainda. É um sonho que está se tornando realidade e que todos esperam não acordar antes de o clube chegar ao cenário nacional.

O mentor da empreitada é Thiago Brani, que é presidente e atleta, além de dar aulas de Educação Física. O ala-armador de 24 anos não é exceção no time. É regra. O único que atualmente se dedica integralme­nte ao basquete, mesmo sem receber, é Gabriel, 25 anos, que é graduado em marketing, mas havia voltado ao esporte na última Liga Ouro, divisão de acesso ao NBB (Novo Basquete Brasil), pelo Brasília Búfalos.

Apesar de ainda ser considerad­o uma equipe amadora, o Niterói Basquete conta com diversos profission­ais em diferentes áreas, incluindo até mesmo um responsáve­l pelas mídias sociais. O que falta é ter dinheiro para remunerar todos eles. “Não é uma reunião de amigos. Existe um pensamento para o longo prazo. Todos estão trabalhand­o para tornar o projeto uma realidade”, explica Thiago.

A organizaçã­o, segundo o dirigente-atleta, foi fundamenta­l para conseguir atrair interessad­os em dar pelo menos o aporte financeiro necessário, na casa dos R$ 30 mil, para o pagamento das taxas de inscrição da Federação de Basquete do Estado do Rio de Janeiro e participar do torneio Estadual ao lado de Flamengo, Vasco e Botafogo, todos times que disputam o NBB.

O Niterói conta com apoio da Honda Hayasa, da Rioport Seguros, que tem como um dos seus sócios o ala Higor (leia mais ao lado) e da MR Assessoria de condomínio­s. Uma parceria com o Colégio La Salle Abel ajudou na questão de infraestru­tura. A equipe atua no ginásio do Centro Esportivo da entidade.

“Hoje ninguém recebe nada porque realmente não temos condições de pagar”, afirma Thiago, que não deixa de acreditar no futuro do Niterói Basquete. O desejo é chegar um dia no NBB. O caminho, claro, é longo.

“É uma coisa que penso para daqui quatro anos. Não podemos antecipar etapas desse time. Queremos dar passos firmes, mesmo que curtos.”

A confiança do presidente atleta é compartilh­ada por outros integrante­s da equipe carioca. Bernardo Spindola, de 26 anos, que, fora da quadra, é consultor de gestão de risco, espera que o Estadual seja apenas o início da caminhada. “Seria muito bom para Niterói ter um representa­nte na elite nacional do basquete. O esporte no Rio precisa de iniciativa como essa”, afirmou o ala, que chegou a jogar duas edições da LDB (Liga de Desenvolvi­mento) do NBB pelo Tijuca e um ano no Vasco.

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GUILHERME FARIA/NITERÓI BASQUETE Comprometi­mento. Apesar de ninguém receber salário, todos se dedicam dentro e fora da quadra pelo sucesso do projeto

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