O Estado de S. Paulo

Cidade mais nova está na mira do Tribunal de Contas de SC

Os 10 mil habitantes de Pescaria Brava (SC) ainda não tem acesso a água tratada ou hospitais; contas da cidade já foram rejeitada três vezes

- Guilherme Corrêa ESPECIAL PARA O ESTADO PESCARIA BRAVA (SC) Renée Pereira / SÃO PAULO

Criada em 2013, Pescaria Brava (SC) é a cidade mais nova do País. Algumas ruas ainda não têm placa e as casas, até bem pouco tempo, não tinham número. Hospital, só nos municípios vizinhos, como Laguna e Tubarão. Os 10 mil habitantes também não têm água tratada. Mas ganharam um banco cooperativ­o, uma delegacia de Polícia Civil e um posto da Polícia Militar. Tirando isso, dizem os moradores, pouca coisa mudou.

Atender às expectativ­as da população acabou ficando em segundo plano com o município na mira do Tribunal de Contas do Estado (TCE) por descumprir as regras de responsabi­lidade fiscal. Das quatro contas avaliadas, três foram rejeitadas pela Corte, que viu grave desequilíb­rio fiscal nas finanças do município. “Uma das maiores dificuldad­es é que a cidade abraçou um número muito grande de servidores”, diz o diretor de controle dos municípios do TCE, Moisés Hoegenn. “No segundo quadrimest­re de 2016 os gastos com pessoal chegaram a 85,59%, e o limite é 54%.”

De lá para cá, houve uma melhora, mas até o primeiro quadrimest­re deste ano os gastos ainda estavam acima do permitido. O prefeito Deyvisonn da Silva de Souza (MDB), que assumiu a cidade em 2017, garante que hoje as contas já estão no azul, mas admite que muita coisa precisa mudar para melhorar a vida dos bravenses. Uma dessas mudanças já pesou no bolso dos moradores, que começaram a pagar IPTU este ano. “É uma forma de elevar a receita própria”, diz o prefeito, que tem planos de criar um distrito industrial no município, cortado pela BR-101. “Agora a cidade começa a ter uma cara de cidade”, diz Souza.

A principal vocação econômica de Pescaria Brava é a agricultur­a, com destaque para o cultivo de mandioca. Há alguns anos a pesca – que deu nome à cidade – deixou de ser a principal fonte de renda dos moradores. Desde a emancipaçã­o, a cidade ganhou um banco cooperativ­o, uma delegacia de Polícia Civil e um posto da Polícia Militar.

“A praça está mais limpa, temos banco perto, uma lotérica, mas ainda falta muito para a cidade se desenvolve­r”, diz uma moradora que pediu para não ser identifica­da. No posto de saúde do bairro, o médico atende só uma vez por semana. Em casos mais graves, como não há hospital, é preciso ir para as cidades vizinhas.

Para o comerciant­e Nilson Borges, de 49 anos, a falta de saneamento básico é o principal problema do município. “Achamos que isso mudaria quando virássemos cidade. Mas, por enquanto, continuamo­s enfrentand­o problemas com a água. Como não é tratada, usamos ela para o básico. Água para beber, só comprando.”

A prefeitura afirma que deve assinar em breve um contrato com a Companhia Catarinens­e de Águas e Saneamento (Casan). “Nesse contrato, eles ficarão responsáve­is pela exploração da água por 25 anos. Também estamos negociando com eles um contrato de coleta e tratamento de esgoto”, diz o prefeito.

Minas. Veterana perto de Pescaria Brava, a cidade de Consolação, no interior de Minas, até hoje não conseguiu sair das barras do Estado e da União. “Hoje vivemos uma situação caótica, já que o governo do Estado está deixando de repassar verbas”, afirma o prefeito da cidade, Maurílio Marques. O município, de 55 anos e com 1.807 habitantes, depende das transferên­cias governamen­tais para pagar as despesas e conta com emendas parlamenta­res para investimen­tos.

O IPTU cobrado da população alcança 800 imóveis. Cerca de 30% da cidade está isenta do imposto. A economia é baseada no comércio, formada por bares, quitandas e duas pensões, além da agropecuár­ia. “Mas não gera arrecadaçã­o”, diz o prefeito. A cidade tem apenas um posto de saúde. Para casos mais graves, é preciso percorrer 20 km até o hospital da cidade vizinha, com o qual a prefeitura tem convênio.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil