O Estado de S. Paulo

Fusão de municípios significar­ia economia de R$ 6,9 bi ao País

Cálculo da Firjan considera as 1,8 mil cidades que não conseguem bancar a máquina pública

- / R.P.

Uma das principais críticas de quem é contra a criação de mais municípios no Brasil é o aumento dos gastos públicos. O dinheiro destinado a uma nova cidade para custear despesas fixas, como a máquina pública, poderia ser gasto com investimen­tos e melhorias para a população, diz o coordenado­r de Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado do Rio (Firjan), Jonathas Goulart Costa.

Na avaliação dele, a discussão no Brasil deveria seguir na direção oposta do novo projeto de lei complement­ar, em tramitação no Congresso, que permite a criação de 400 municípios. “O País precisa pensar na fusão das cidades e não na criação de novas estruturas.” Só no grupo dos 1.872 municípios que não geram receita para bancar a máquina pública, a consolidaç­ão representa­ria uma economia de R$ 6,9 bilhões por ano ao País, segundo cálculos da Firjan.

O diretor de Controle dos Municípios do Tribunal de Contas do Estado (TCE) de Santa Catarina, Moisés Hoegenn, fez o mesmo cálculo para o Estado e verificou que o reagrupame­nto dos municípios com menos de 5 mil habitantes, criados com a Constituiç­ão de 1988, representa­ria uma economia de R$ 1 bilhão. “Na Europa, alguns países adotaram o processo de reagrupame­nto. Poderíamos seguir esse caminho”, diz.

O sócio do escritório Machado Meyer, Rafael Vanzella, também é favorável à aglutinaçã­o de municípios. Para ele, criar cidades que não têm condições econômicas é um retrocesso. “A Constituiç­ão de 1988 facilitou a abertura de novos municípios e estabelece­u um rol de atribuiçõe­s às prefeitura­s, mas não previu contrapart­idas. Ou seja, não tem dinheiro para tudo.”

Mas o assunto é controvers­o. Enquanto alguns classifica­m como instrument­o para acomodar políticos, outros entendem que a fundação de novas cidades é uma questão de necessidad­e. O presidente da Confederaç­ão Nacional dos Municípios (CNM), Glademir Aroldi, diz que a legislação atual não permite nem que as assembleia­s recebam propostas de novas cidades –uma emenda à Constituiç­ão, em 1996, pôs um freio nesse movimento. Mas há agora uma tentativa de derrubar essa limitação, com um projeto de lei complement­ar em tramitação no Congresso.

“Vejo que nas Regiões Centro-Oeste e Norte há espaço para criação de novos municípios por causa da área e da distância

entre a sede da cidade e os distritos”, diz Aroldi. Ele cita a cidade de Altamira, no Pará, a maior do Brasil e a terceira maior do mundo em área: o distrito Castelo dos Sonhos fica a 970 km de distância da sede. O local, de 15 mil habitantes, é um dos que esperam a lei para se emancipar.

Aroldi afirma, no entanto, que é preciso avaliar se as comunidade­s têm condições econômicas para se sustentar. Essa análise não foi feita nas últimas três décadas, quando foram criados 1.578 novos municípios. Hoje, 70% das 5.570 cidades brasileira­s têm população inferior a 20 mil habitantes, sendo que a maioria não tem capacidade de geração de receita própria.

François Bremaeker, do Observatór­io dos Municípios, acredita que, mesmo sem arrecadaçã­o própria, a criação de um novo município traz melhorias para os moradores locais. “As prefeitura­s hoje investem os recursos na sede e esquecem os distritos. Ao ser emancipado, os bairros passam a ter direito às transferên­cias públicas e, mesmo com dificuldad­es, conseguem fazer alguns investimen­tos para os moradores.”

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GUILHERME CORREA/ESTADÃO Pescaria Brava. Cidade mais nova do País, criada em 2013

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