O Estado de S. Paulo

‘Um ano e meio não é pouco tempo para a lei’

Especialis­ta do Idec, Rafael Zanatta acredita que a nova legislação será benéfica para empresas e cidadãos

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Das primeiras discussões à sanção pelo presidente Michel Temer, a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais demorou oito anos para virar realidade. Um dos mais ativos nomes nesse processo, seja defendendo a importânci­a da regulação para os legislador­es ou incentivan­do discussões públicas, é o de Rafael Zanatta, pesquisado­r de telecomuni­cações do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

Em entrevista ao Estado, ele explicou a importânci­a da lei, os impactos que ela terá e o papel do governo nessa nova etapa do uso de dados no País.

Por que a Lei de Dados importa?

É um resgate da dignidade e autonomia dos brasileiro­s, colocando os cidadãos em posição central no que se refere ao uso de suas informaçõe­s pessoais. Com a lei, as pessoas serão donas de seus dados.

• O Marco Civil da Internet, aprovado em 2014, já não contemplav­a a proteção de dados?

O Marco Civil só trabalha com o universo digital e empresas que nele atuam, como Netflix, Google ou os provedores de internet. Dados sensíveis como coleta biométrica para a entrada em prédios, ou até do Bilhete Único paulista, estavam desprotegi­dos. Além disso, a Lei de Dados exige que quem coleta seja claro e transparen­te sobre o uso das informaçõe­s.

• Há uma cultura de privacidad­e no País?

Estamos avançando. Hoje, vejo pessoas preocupada­s se uma farmácia vai repassar seu histórico de compras para um plano de saúde, por exemplo.

• Qual será o papel do governo, especialme­nte consideran­do uma nova gestão federal?

É necessário assumir a proteção de dados como prática, além de replicar isso para Estados e municípios. É preciso também criar de vez o órgão técnico para fazer a regulação da lei. Além disso, alguns gestores precisarão repensar sua estratégia de monetizar dados dos cidadãos a qualquer custo. As pessoas não vão aceitar que o governo venda informaçõe­s geradas pelo Bilhete Único, por exemplo. Proteger os dados das pessoas pode ser uma estratégia positiva para os políticos, que poderão reconquist­ar a confiança dos cidadãos.

Há impactos econômicos?

A lei é obrigatóri­a para uma série de relações comerciais que precisam de transferên­cias de dados internacio­nalmente. Além disso, ter uma lei e um órgão de proteção de dados também é uma das exigências da Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico (OCDE), onde o Brasil tenta uma cadeira.

• Na UE, houve prazo de dois anos para adequação à GDPR. Aqui, 18 meses são suficiente­s?

Não é pouco tempo. O desafio será fazer equipes de áreas de exatas e de humanas conversare­m. A lei obrigará que toda criação e venda de um produto ou serviço seja pensada a partir da proteção dos dados.

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/ M.L. GABRIELA BILO / ESTADÃO Social. Rafael Zanatta afirma que lei é mudança cultural

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